Depois de muitas ameaças, o governo golpista e fraudulento de Jair Bolsonaro anunciou na semana passada uma lista com nove empresas estatais que serão privatizadas, ou, na linguagem do ministro da Economia, Paulo Guedes, o governo vai “passar a faca”. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) é uma dessas empresas da lista.
O anúncio, talvez não por coincidência, ocorreu no mês em que ocorre o dissídio da categoria, que está em plena campanha salarial. A direção da empresa, presidida por um general, se recusa a negociar com os representantes da categoria a ponto de que a campanha salarial foi parar no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Na realidade, como já é conhecido dos trabalhadores, o TST atua em favor dos patrões, e foi o que ocorreu.
Diante da greve iminente da categoria, uma manobra do TST, que prorrogou o Acordo Coletivo para o próximo dia 31, fez com que os sindicalistas aceitassem adiar a greve, que agora está marcada para o dia 3 de setembro. As assembleias para a aprovação da greve na maioria dos sindicatos estão marcadas para esta quinta-feira, dia 29.
A empresa continua se recusando a negociar. Diante disso, a burocracia sindical da categoria que cometeu um erro crasso em adiar a greve, o que na prática foi um recuo, continua levando uma política de baixa intensidade como se o atual momento não fosse o mais grave já sofrido pela categoria em toda sua história.
A privatização dos Correios vai acarretar a demissão em massa dos trabalhadores ecetistas. Para se ter uma ideia da gravidade disso, os Correios são a empresa estatal com maior número de funcionários. São mais de 110 mil trabalhadores concursados, que estão ameaçados de perder o emprego.
Diante de tamanha gravidade, os sindicalistas da Fentect (Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios) e dos sindicatos insistem em uma mobilização de baixíssima intensidade. Para se ter uma ideia, no último final de semana, a Fentect realizou seu Conselho de Sindicatos (Consin) que reúne apenas os representantes dos 31 sindicatos. Ali ficou decidida a realização da greve e a insistência nas negociações, como se o problema mais importante no momento ainda fosse a disputa pelo reajuste salarial miserável e não por uma luta política de enorme envergadura contra a política do governo golpista de privatizar a empresa.
A Fentect é dominada por uma aliança entre setores do PT, principalmente a Articulação Sindical, o PSTU, setores do Psol e uma oposição de fachada como a diretoria do Sindicato de Minas Gerais, que leva uma política de colaboração com esses setores da burocracia. A maioria desses sindicalistas se acostumaram a levar uma política de mobilizações artificiais e campanhas salariais derrotadas resultantes de uma série de capitulações diante da empresa. Isso desde os governos do PT.
O mesmo pode ser dito sobre o maior e mais importante sindicato da categoria, o Sintect-SP (Sindicatos dos Trabalhadores dos Correios de São Paulo), que é dirigido pelo PCdoB/CTB e que anos atrás, atendendo a uma política patronal, dividiu a categoria em uma federação fantasma chamada Findect, que agrega ainda o sindicato do Rio de Janeiro. A Findect se presta nesse momento a convocar uma reduzida reunião de delegados sindicais e a fazer um abaixo assinado contra a privatização para entregar ao Congresso Nacional dominado por bolsonaristas e outros direitistas cujo principal desejo é privatizar tudo.
Tal política da burocracia sindical sempre foi prejudicial para a categoria, que acumula nos últimos anos uma série de derrotas que facilitaram o atual ataque. Mas a gravidade do momento transforma essa política em muito nociva para a categoria, pois o que está em jogo é a vida dos milhares de trabalhadores e seus familiares. Mais ainda, o que está em jogo é um ataque econômico sem precedentes a todo o povo brasileiro.
A essa altura uma simples greve de “resistência”, como a burocracia sindical gosta de chamar, não será suficiente para derrotar a empresa. Na verdade ela é o caminho para a derrota. Será preciso colocar em marcha uma enorme mobilização e em todo o País, com uma greve com ocupação dos setores de trabalho. Uma medida efetiva contra a privatização.
A sobrevivência dos milhares de funcionários dos Correios e seus familiares está em jogo. A campanha salarial que ocorre nesse momento deve se transformar em uma enorme mobilização política contra o governo. É absurda a política da burocracia sindical que pretende levantar reivindicações salariais enquanto que a empresa está prestes a ser destruída. É preciso chamar a mobilização esclarecendo a categoria de que sem derrotar politicamente esse governo qualquer reivindicação parcial é meramente uma ilusão. É como se diante da ameaça iminente de uma bomba atômica, a população de uma cidade estivesse pedindo a construção de mais casas ao invés de lutar e impedir, com todos os meios que fossem necessários, os que estão jogando a bomba.
Por isso, diferente do que foi feito até agora, é preciso uma mobilização permanente, com assembleias regulares, todos os dias de preferência, e agitação em todos os setores para preparar não só a greve que está marcada para o dia 3, mas ocupações dos setores de trabalho, que é a medida mais eficiente contra as demissões e a privatização. É necessário um plano conjunto de mobilização com categorias que estão igualmente ameaçadas pela privatização, como os eletricitários, telefônicos, processamento de dados, petroleiros, bancários e outras. Além disso, é preciso chamar os trabalhadores e se juntarem ao movimento de rua para derrubar o governo Bolsonaro, inimigo mortal da categoria, e exigir a liberdade de Lula, cuja prisão política foi o que permitiu a ascensão do governo que quer entregar os Correios para os capitalistas e demitir em massa.