Historicamente, as etnias ocupantes das terras na América Latina sofreram e ainda sofrem verdadeiros genocídios na luta contra o capital, seja dos colonizadores, latifundiários ou mineradoras. Com verdadeiros episódios de guerra e até mesmo o uso de doenças desconhecidas por essas comunidades como armas biológicas em seu desfavor, no momento vemos a história repetir-se com a pandemia do covid-19.
Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) o número de registrado cresceu de 9 (nove) para 23 (vinte e três) desde segunda-feira dia 13/04/2020 até quarta-feira dia 15/04/2020. Um crescimento de 156% nestas últimas 48 horas observadas. Havendo oficialmente três mortes, em três etnias distintas (kokama, tikuna e ianomâmi), e 23 casos ainda sobre suspeitas que se confirmados resultam num crescimento superior a 300%.
No Brasil existem 34 (trinta e quatro) Distritos Sanitários Especiais Indígenas (Dseis), organizados de acordo com a base de ocupação geográfica das aldeias, criados pela Lei Nº 9.836 de 24 de setembro de 1999. A maioria dos casos confirmados está concentrada no Dseis de Manaus, região da capital amazonense onde o número de casos dobrou para 12 (doze) registrados. O segundo maior foco com 8 (oito) casos registrados, encontra-se no Dseis do Alto Solimões nas regiões fronteiras com Colômbia e Peru.
Ainda há casos confirmados pelos distritos sanitários do Médio Rio Purus (1), Parintins (1) e Yanomami (1), este último localizado no Estado de Roraima, único caso registrado fora do estado do Amazonas. As últimas duas mortes confirmadas pelo Ministério da Saúde foram no sábado do senhor Valter Tanabio Elizardo, de 78 anos, da etnia tikuna e da senhora Maria Vargas Castelo Branco, de 44 anos, da etnia kokama, ambos pertencentes ao Dseis do Alto Solimões.
Valter Tanabio Elizardo estava internado para tratar de problemas cardíacos, havendo a confirmação no teste para o novo coronavírus e agravamento do quadro até o óbito. Maria Vargas Castelo Branco estava internada desde 28 de fevereiro, para tratamento de anemia hemolítica autoimune, também havendo confirmação na testagem para o novo coronavírus e agravamento do quadro até o óbito.
Neste mesmo sábado a Hutukara Associação Yanomami fez um alerta sobre o aumento de casos de contaminação de indígenas pelo o novo coronavírus, denunciando a presença de garimpeiros como vetores da pandemia e a falta de atendimento adequado que levaram à morte o adolescente de 15 anos Alvanir Xrixana, em Roraima. O adolescente teve ingresso no Hospital Geral de Roraima (HGR) com sintomas respiratórios no dia 18 de março, teve três altas seguidas foi internado no dia 3 de abril com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), mas só recebeu o diagnosticado de Covid-19 no dia 7 de abril, depois de 4 dias de internamento.
Vale ressaltar que para a Escola Estadual Indígena Helepe localizada na Comunidade Awaris, última localização do adolescente, após suspensão das aulas no município de Amajari, só foram enviados 20 testes rápidos, números que suportam apenas os alunos matriculados deixando todo o restantes da comunidade sem teste.
É visível que a inoperância da Fundação Nacional do Índio (Funai) tornou-se mais aguda com a política genocida do governo federal de Jair Bolsonaro e está levando a um quadro insustentável dentro das terras indígenas.