Na última quarta-feira (27), a Câmara dos Comuns (câmara baixa) do Parlamento Britânico rejeitou uma proposta apresentada pelo representante do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn, para um acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia. A rejeição da proposta de Corbyn colocou-o na posição de apoiar os que advogam a realização de um novo referendo para que o povo britânico se pronuncie mais uma vez sobre o seu desejo de que o país se retire da união em razão de promessa nesse sentido feita anteriormente.
É bem peculiar o quid pro quo armado no Reino Unido desde que o antecessor de Theresa May, David Cameron, decidiu chamar um referendo para decidir quanto ao divórcio com a União Europeia. Deixar a união é uma tarefa complexa que inclusive não está prevista nos estatutos antidemocráticos da UE. Pressupunha-se que o casamento seria para sempre. A entrada na UE e a alteração do seu status pela lógica democrática deveria ser sempre objeto de manifestação das populações interessadas, no entanto isso nem sempre ocorreu.
A UE entendida como um acordo entre as burguesias do continente europeu jamais teve como objetivo beneficiar a classe trabalhadora dos países integrantes. No seu formato inicial (Mercado Comum Europeu – MCE) tratava-se apenas de uma união aduaneira e era nessa união que as populações integrantes dessa formação acreditavam estar entrando. Mais adiante diversos passos foram dados em direção a uma integração maior, mas foram sendo integrados e aos poucos o objetivo final, não atingido ainda, foi tornado público: a criação de um “Estados Unidos da Europa”.
Do mesmo modo que as populações dos primeiros países integrantes acreditavam que estavam participando de uma mera união aduaneira, numa fase posterior os trabalhadores de países como Portugal e Espanha vislumbravam participar do estado de bem-estar social vigente em países como França e a Alemanha. Os últimos a chegarem e os possíveis futuros integrantes, como os países da Europa Oriental, desejam apenas poder ir trabalhar em empregos de baixa qualificação sem a necessidade de visto, uma vez que sua situação interna os obriga a emigrarem. O que obtiveram todos foi apenas serem governados por uma burocracia autoritária que não tem nenhum interesse em ouvi-los uma vez que trabalha para os bancos europeus.
A realização de um segundo referendo no Reino Unido se assemelha ao ocorrido em outros países nos quais, quando um referendo não entregava o resultado esperado pela burguesia, realizava-se outro e outro até que o resultado desejado era obtido, em um processo abertamente fraudulento. A insatisfação popular com o estado de coisas dentro da UE é grande e Corbyn tem sido até aqui a única voz na esquerda europeia a assumir uma posição desfavorável à UE, posição da qual agora parece que recuará.
A negativa da esquerda em denunciar, combater ou mesmo criticar a UE tem rendido frutos à extrema-direita que soube capitalizar o descontentamento das populações cada vez mais desfavorecidas pelas diretivas emanadas de Bruxelas.
Tendo em vista que o prazo final para o “Brexit” é dia 29 de março, em alguns dias teremos conhecimento do posicionamento de Corbyn diante da questão e veremos se ele não decepcionará sua base operária, que o colocou como líder do Partido Trabalhista.