Em uma das muitas e cínicas declarações apresentadas diante do assassinato do operário metalúrgico João Alberto, negro de 40 anos, por conta de espancamento e asfixia dentro do supermercado Carrefour em Porto Alegre, dirigentes da empresa apresentaram em propaganda paga amplamente divulgada na TV e nas redes sociais, seu suposto “pedido de desculpas”, segundo eles “aos familiares, aos colaboradores e à sociedade”
O empresário Noel Prioux, CEO do Carrefour Brasil declarou que
Por sua vez, João Senise, vice presidente de Recursos Humanos do Carrefour Brasil apresentou o que supostamente seria uma evidencia de que o Carrefou não é uma empresa racista e opressora da população negra; sem corar discursou que
O poderoso monopólio é dono de várias marcas que operam sobre a marca Carrefour e o Atacadão, a primeira a empresa varejista que mais vende desde 2018, é considerada a segunda maior empresa varejista do Brasil e a segunda a maior rede de atacado do País. E não para de crescer: só neste ano já adquiriu, por quase R$ 2 bilhões, 30 lojas da rede de atacado Makro. Além disso conta com laços junto a outros tubarões capitalistas, como o Itaú Unibanco, maior banco privado do Brasil, que há quase uma década adquiriu 49% das ações do Carrefour Soluções Financeiras.
Além de explorar um dos negócios mais lucrativos do País, em que a maioria da população mal ganha para comer, uma das “minas” do Carrefour é a exploração de mais de 150 mil funcionários, no Brasil (de um total de mais de 360 mil no Mundo), que lhe garantiram uma receita de R$ 33,513 bilhões, apenas no primeiro semestre deste ano.
O monopólio adota como lema oficial “Todos merecem o melhor”, mas o “melhor” fica apenas para os seus poderosos acionistas.
Em primeiro lugar, é preciso destacar o óbvio, o apressado “pedidos de desculpas” dos “brancos e privilegiados” que administram o Carrefour, em nada modificam a situação da família de João Alberto, brutalmente assassinado, e tampouco das dezenas dedilhares de trabalhadores da empresa e da população consumidora, servem apenas para limpar a barra suja da empresa e procurar garantir sua lucratividade, a única coisa que – de fato – lhes importa.
Trata-se de uma atitude semelhante à cínica campanha publicitária que os dirigentes da Vale vem realizando, depois dos massacres que promoveram em Mariana e Brumadinho (MG), procurando apresentar o monopólio como uma empresa preocupada com o meio ambiente e o bem estar da população.
Como cinismo e falsidade, não pagam imposto – e temendo a revolta popular contra a política criminosa dessas empresas, de roubar e reprimir o povo, em particular a população negra e trabalhadora -, os executivos usam agora, verbas publicitárias da empresa para tentar acalmar a situação e até receberem elogios da imprensa capitalista e até de setores da esquerda pequeno burguesa, sempre dispostos a se colocarem do lado dos capitalistas e dos inimigos do povo.
Os exploradores dos mais de 150 mil “escravos” do Carrefour (dos quais quase 90 mil são reconhecidos pelos escravocratas como sendo negros), sabem que essa situação não tem a ver com uma preferência racial ou escolha do Carrefour de outras redes de supermercados, mas ao fato de que esse é um dos serviço “reservado aos pretos”, justamente por conta dos miseráveis salários pagos e pelas péssimas condições de trabalho (superexploração!).
Da mesma forma, quem examine atentamente a situação no País, sabe que o ocorrido em Porto Alegre, justamente em 20 de novembro, “Dia da Consciência Negra”, não é obra do acaso, mas parte consciente e consistente da política repressiva e racista do Carrefour, de todos os monopólios capitalistas e dos seus governos, justamente, os que patrocinaram e executaram o golpe de Estado de 2016 para garantir seus lucros e a intensificação desta situação, em meio a uma situação de crise histórica do capitalismo.
A burguesia não tem o menor interesse de acabar com o racismo, o que equivalera a dar ao negro as mesmas condições da população branca. Pelo contrário, quer intensificar a escravidão de negros e brancos, como se vê no aumento exponencial do desemprego, no rebaixamento salarial, no aumento generalizado da fome, no genocídio crescente da atual pandemia, no massacre da população pobre e negra pela Polícia (6.357 mortos em 2019, sendo 80% negros), no aprisionamento de centenas de milhares de vítimas da opressão capitalista.
No Brasil, “combater o racismo”, como apregoam até mesmo os “escravocratas” significaria uma elevação considerável das condições de vida do povo negro, em uma etapa em que a burguesia avança no sentido de degradas ainda mais as condições de vida do povo negro e de toda a população explorada.
Nenhuma mudança poderá ser estabelecida por meio de um acordo com a burguesia branca e racista
É necessária uma ampla e combativa mobilização – “pelos meios que forem necessário” – contra os que buscam, de fato, reintroduzir a escravidão por todos os meios.
De nada servem pedidos de desculpas. É preciso arrancar na marra reivindicações fundamentais como é o caso, dentre outras, da conquista de salário igual para trabalho igual (entre brancos e negros), a redução da jornada de trabalho para 35 horas semanais (para garantir milhões de novos empregos), a dissolução da PM (máquina de guerra contra a população pobre e negra), o livre ingresso na universidade, com o fim do vestibular etc.