Da redação – Uma semana depois da tragédia provocada pela Vale, manifestantes da Aldeia Pataxó Hã Hã Hãe e dos Acampamentos Pátria Livre e Zequinha, ambos do MST, bloquearam a estrada de escoamento da mineradora Ferrous, em Serra Azul, distrito de Mateus Leme (MG), a cerca de 30 km de Brumadinho, na última quinta-feira (31).
Em torno de 300 pessoas da Frente Brasil Popular paralisaram os trens e caminhões da mineradora, que intensificou o transporte de minério nos últimos dias, preocupada apenas com o lucro dos seus acionistas, em detrimento ao rastro de destruição que deixam neste acidente, visto pela população como um verdadeiro “genocídio”.
Cerca de 600 famílias acampadas há mais de um ano na região também foram atingidas pelo rompimento da barragem Mina do Feijão no dia 25, que despejou 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos no rio Paraopeba, principal fonte de abastecimento e irrigação para a população da região. O protesto de solidariedade às famílias e de denúncia da atuação da mineradora pertencente à Vale, cobrou ações do Estado e da empresa, para resolver os problemas dos afetados.
A ação criminosa das mineradoras em Minas, que vitima novamente trabalhadores e moradores do entorno imediato ao acidente, contamina outro rio importante do estado e estratégico para o abastecimento hídrico da região metropolitana de Belo Horizonte. Já considerado morto a partir do ponto onde foi interceptado pelos rejeitos vindos de Brumadinho e pelo grau de turbidez da água, com a contaminação por metais pesados como chumbo, mercúrio, níquel, cádmio e zinco em concentração até 21 vezes maior que o permitido, a extensão do dano ambiental provocado pela lama que atingiu o leito do Paraopeba, a pouco mais de duas horas do rompimento da barragem, chega a 100 km.
Segundo o SOS Mata Atlântica que monitora os danos causados ao longo do leito, a bacia do Rio Paraopeba tem extensão de 546,5 km, área de 12 mil km² e abrange 48 cidades do estado e corresponde a 5,14% do território da bacia do Rio São Francisco.
A atividade predatória da Vale é denunciada pelas famílias sem-terras e indígenas que moram na região desde 2017, ao verem a comunidade do Tejuco, outrora verde, ser devastada pela mineração. Com esse desastre em Brumadinho, eles assistem impotentes à destruição do rio, com peixes mortos sobre a água, numa situação de verdadeira calamidade, segundo Michele Ramos, do MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração.
As perdas humanas, ambientais e econômicas deste crime mostram os prejuízos e desgraças das privatizações para o estado de Minas Gerais. A reestatização das empresas sob o controle dos trabalhadores é urgente, para que a ganância do capital pare de fazer mais vítimas e a companhia funcione de maneira eficiente para atender aos interesses da população.