Enquanto alguns discutem se o Brasil vive uma segunda onda de infecções por Covid-19 ou se ainda não saiu da primeira, o fato concreto é que a pandemia segue vitimando brasileiros. Na contagem oficial já superamos 180 mil mortes em decorrência da doença.
Mas em meio a esse trágico cenário, as competições esportivas seguem a pleno vapor. Os desfalques por Covid-10 no Brasileirão 2020 são um fator que interfere nos jogos a cada rodada. Em novembro, na 22ª rodada da Série A, foram 60 os jogadores afastados por testarem positivo para o vírus. Nada menos do que 12 dentre os 20 times foram desfalcados.
No último domingo, o segundo vice-presidente do Cruzeiro faleceu em decorrência da Covid-19. Massagistas do Flamengo e do Serra (clube do Espírito Santo) faleceram ainda no primeiro semestre. Por falta de publicidade, desconhecemos as vítimas que atuam em outros segmentos ativos em torno dos campeonatos, como limpeza, segurança, alimentação e jornalismo, entre muitos outros.
Um outro exemplo recente ocorreu nesta semana no basquete. A equipe do Corinthians teve 8 atletas testados positivos e solicitou o adiamento dos dois próximos jogos, nos dias 14 e 16/12. Com o pedido negado pela Liga Nacional de Basquete, o clube anunciou que o time não entrará em campo e perderá as partidas por W.O.
Se os fatores sanitários e científicos fossem preponderantes, as competições nem teriam sido retomadas. Na pior das hipóteses, seriam pelo menos interrompidas diante dos seguidos surtos de infecção. Ou seja, da comprovação empírica de que os tais protocolos de segurança não foram capazes de impedir a propagação do vírus.
Como este Diário vem apontando há meses, a retomada das competições esportivas veio por forte pressão econômica. No caso do futebol brasileiro, a Globo ocupou papel de destaque por monopolizar os direitos de transmissão dos jogos. Como a verba proveniente da venda desses direitos de transmissão é um importante componente do orçamento dos clubes, o que fez com que vários “cartolas” se somassem à campanha de retomada dos campeonatos.
Com receio de ficarem sem salários, atletas não se articulam para interromper as competições e alguns já foram infectados mais de uma vez. Entre os treinadores, pelo menos 3 já foram internados com sintomas mais graves da doença.
Com a nova explosão de casos de Covid-19 no Brasil e no resto do mundo, seriam minimamente sensato interromper os campeonatos em prol da saúde de todos os profissionais envolvidos. No entanto, os jogos e os surtos de infecção seguem inabalados.