O Partido Popular da Áustria, liderado por Sebastian Kurz, ganhou mais uma vez as eleições para o novo Parlamento do país. Segundo boca de urna, Kurz tem 37,1% dos votos, e voltará ao cargo de primeiro-ministro.
Apesar do aumento de mais ou menos 5% em relação às eleições de 2017, que o haviam conduzido para o cargo, o Partido Popular não conseguiu formar maioria e, portanto, precisará formar uma coalizão para governar.
Continuação da crise política
Em maio deste ano, a coalizão de Kurz com o Partido da Liberdade, de extrema-direita, foi desfeita por conta de um vídeo em que o antigo líder fascista, Heinz-Christian Strache, prometia contratos governamentais a um investidor russo próximo de Vladimir Putin. Na época foi um escândalo gigantesco que derrubou o governo, quando o Parlamento aprovou um voto de desconfiança contra Kurz e o vice de extrema-direita.
O escândalo estava mirando a extrema-direita, que saiu fragilizada das eleições, perdendo cerca de 10% dos votos de 2017, ficando com apenas 16,1% (terceiro lugar). A eleição em si foi uma manobra para tirar o poder relativo da extrema-direita do governo, sendo o motivo pelo escândalo ter sido divulgado alguns meses antes das eleições.
A burguesia queria um governo dos conservadores sem a extrema-direita. Porém, a crise se mantém, uma vez que o Partido Popular não conseguiu maioria no legislativo para governar sozinho, apesar de todas as manobras e do crescimento eleitoral.
Vale aqui ressaltar que estas eleições explicitam a crise de todo o regime político, já que um dos partidos mais tradicionais do país, o Social-Democrata, teve seu pior resultado desde a Segunda Guerra Mundial. Nas últimas eleições os sociais-democratas perderam cerca de 5% dos votos de 2017, ficando com apenas 21,7%.
Quem fará parte do governo?
A dúvida agora é saber quem irá formar o governo com os conservadores. Setores da burguesia cogitam nos Verdes, que apesar de terem ficado em 4º nas eleições, obtiveram um crescimento de quase 10%, passando de 3,8% em 2017 a 13,5% nas últimas eleições.
Porém, isso é muito incerto. Kurz chegou a acenar para os fascistas do Partido da Liberdade, afirmando que os 17 meses de coalizão formada pelos dois foi “muito boa” até a divulgação do vídeo que levou ao escândalo.
O líder de extrema-direita, Nobert Hofer, entretanto, indicou que devem manter distância do governo, revelando a desmoralização do partido.
Se, entretanto, esta coalizão se confirmar, a aliança é instável. Os conservadores formarão o mesmo governo desmoralizado que caiu em maio deste ano, aumentando a insatisfação popular. Além disso, a manobra para retirar a extrema-direita do caminho falhará miseravelmente, uma vez que, formando o governo, tornar-se-ão novamente uma força predominante do regime político.
Por outro lado, uma coalizão com os também desmoralizados sociais-democratas abrirá o caminho para a extrema-direita, uma vez que, diante da polarização, o único elemento que aparecerá como divergente dos partidos tradicionais da burguesia será o Partido da Liberdade – já que o centro político estará aliado.
A crise, portanto, continua…