Tiago Pires é militante do Partido da Causa Operária, bancário da Caixa Econômica Federal, coordenador da célula de Araraquara e ex-candidato a prefeito da cidade. Nesta entrevista, Tiago fala sobre a situação do coronavírus e as medidas implementadas pelo prefeito Edinho Silva, que ganharam projeção nacional nas últimas semanas.
Diário Causa Operária (DCO) – Tiago, qual a situação da pandemia do COVID-19 em Araraquara?
Tiago – Neste momento, ocorreu uma pequena melhora na situação, que ainda é preocupante. Predomina em Araraquara o contágio da nova cepa, de maior transmissibilidade e letalidade, identificada em Manaus. A ocupação dos leitos de UTI e enfermaria estão com 91% e 94% respectivamente. Até a semana passada, estava em 100% a taxa de ocupação e mais de dez pessoas na fila de espera por uma vaga. Até quarta (3), eram mais de 14 mil casos confirmados e 225 mortes. A rede pública de saúde opera no seu limite.
DCO – Fale sobre as medidas implementadas pelo prefeito Edinho Silva.
Tiago – Em virtude do aumento do número de infecções e mortes pela nova cepa, em uma medida desesperada, Edinho Silva decretou o lockdown total. Nem mesmo os supermercados puderam abrir suas portas, o que gerou um caos na cidade. Centenas de pessoas foram multadas arbitrariamente pela Polícia Militar e Guarda Municipal. Até mesmo a presença do Exército nas ruas foi solicitada pelo prefeito. A prefeitura também requiriu ao TJ-SP a proibição de manifestações, que foi acatado. É importante lembrar que em abril do ano passado, uma mulher bolsonarista foi presa por furar a quarentena ao frequentar uma praça pública. Entendemos que o PT está cometendo um erro gravíssimo ao adotar essas medidas, assumindo uma posição muito direitista. É uma medida muito impopular e vai jogar uma boa parte da população nas mãos do bolsonarismo.
DCO – Qual a reação da esquerda e da população?
Tiago – De maneira geral, a esquerda burguesa e pequeno-burguesa, PT, PSOL, PDT e PCdoB apoiam a repressão contra a população, fazem a defesa histérica do “fica em casa”, como se fosse uma questão de opção. Diante da manifestação de lojistas pela reabertura, a esquerda caracterizou a manifestação como um ato da extrema-direita negacionista. E assim defendeu a proibição das manifestações, que atingirá também a esquerda, que precisa sair às ruas para garantir vacinas para toda a população e derrotar o golpe de Estado no país.
Nós do PCO, entendemos que o direito de manifestação é um direito constitucional, sendo – inclusive – uma cláusula pétrea da nossa Constituição, um direito democrático fundamental. A decisão do prefeito é antidemocrática e inconstitucional. Sem o direito de manifestação, a população se torna escrava. O direito de manifestação é um direito que garante todos os demais.
DCO – Quais as consequências dessas medidas para o prefeito do PT?
Tiago – O fechamento dos supermercados foi uma medida equivocada, que prejudicou parte significativa da população, que não pôde comprar comida e foi obrigada a pagar caro nas taxas de entrega. Multar a população provocou uma insatisfação generalizada. Essas medidas jogam as pessoas atingidas, assim como os lojistas, varejistas e pequenos comerciantes, no colo do bolsonarismo. Isto deve gerar um esvaziamento nas bases eleitorais petistas, que pode servir para a direita e extrema-direita se fortalecerem e tentarem um golpe contra o governo.
DCO – Em sua opinião, o que deve ser feito?
Tiago – A esquerda deve se agarrar aos princípios democráticos e se posicionar contra qualquer medida autoritária. É preciso garantir as condições de vida para população, defender o auxílio emergencial de pelo menos um salário mínimo, bem como subsídios para os pequenos comerciantes e proibir as demissões. O lockdown com planejamento é necessário, mas somente a vacinação de toda população colocará fim a situação de calamidade. A esquerda precisa parar de buscar conciliação com a direita golpista e organizar a luta pelo Fora Bolsonaro e Fora Doria, para o que é preciso se manifestar, ainda mais agora, quando a vida da população está ameaçada.
