Em São Félix do Coribe, no extremo Oeste da Bahia o Conselho é formado por
aposentados – onde todo seu dinheiro vai para os remédios, tendo, inclusive, mais de um neto em casa para alimentar -, mulheres, que são mães beneficiárias do Bolsa Família, funcionários terceirizados da prefeitura que recebem menos de um salário mínimo, sem vale refeição,
vale alimentação, muito menos adicional de insalubridade e pessoas desempregadas.
No setor chamado de Cabeça de Boi, área mais pobre do bairro Alto da Bela Vista, temos
muitas casas com apenas quarto, cozinha e banheiro, várias sem reboco ou piso, ou sem
pintura, onde donas de casa já usam fogão a lenha.
A vestimenta das pessoas são roupas simples e algumas já sendo usadas a bastante
tempo, shorts, camisetas e sandálias de dedo é o predominante.
O que não falta também é a poeira, bastante poeira, com ruas ainda de terra, coisa que atrapalha
por demais na manutenção das casas limpas e higienizadas. E com crianças correndo para
uma lado e outro com suas pernas e pés da cor do chão, avermelhado.
A maior parte dos membros do Conselho é de mulheres e seguindo o padrão dos bairros de
periferia, a ampla maioria são negros.
Visitando as casas e confirmando nas reuniões, aferimos que praticamente em todas as residências tem
um idoso, e geralmente doente e sem todos os remédios necessários.
O bairro é tão esquecido que durante toda essa pandemia, as autoridades públicas só
distribuíram a cesta básica uma única vez, e insuficiente, várias pessoas não receberam. Não foram distribuídas de casa em casa as máscaras e álcool em gel, muito menos os
remédios, e menos ainda a visita de médicos.
Houve o famigerado auxílio para os estudantes, menos que R$ 10,00 para um mês inteiro,
ou melhor, para toda pandemia, pois só saiu uma vez.
O Conselho já se reuniu com o prefeito, onde na oportunidade foi cobrado o posicionamento
diante de 20 reivindicações enunciadas e discutidas nas reuniões ( no primeiro mês foram
diárias).
Como era de se esperar de um membro do Partido Progressista (PP), que ajudou no golpe
de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff e colocou Bolsonaro na presidência, todos os pedidos foram negados.
Vale a pena lembrar que o Conselho surgiu de um mutirão feito pelo Comitê de luta Fora
Bolsonaro, onde passamos de casa em casa distribuindo os materiais da campanha, como
adesivos, cartazes e jornais. Nesse contato direto nas residências foi perceptível que
aquelas pessoas precisavam ser ajudadas a se organizar para lutar por seus direitos.
Sendo assim, mais uma vez foi passado de porta em porta e chamamos as pessoas para
uma reunião de fundação do Conselho Popular, explicando que o conselho tinha o objetivo
de reunir as pessoas para discutir os problemas econômicos e de saúde, e decidir o que
fazer para ter as necessidades atendidas.
Um passo importante foi a criação do jornal Voz do Bairro e o Restaurante de Campanha.
Hoje as principais propagandas são: que haja testes de Covid-19 em todos os moradores e a
utilização da Escola Municipal João de Deus como restaurante. Para isso serão feitas faixas e
cartazes para mobilizar toda a cidade.
Tanto o Jornal como o Restaurante são feitos e distribuído em forma de mutirão, pelos próprios membros.
Os almoços de sábado, que passaram da décima edição, com pratos de primeira linha, como
feijoadas e vaca atolada, nessa semana será servido uma sopa nas quintas às 17h.
Como todo o trabalho é coletivo, tem a equipe de recolher os alimentos, outra para
cozinhar, e outra para limpar e lavar.
É de uma importância grande o funcionamento desse restaurante, pois as famílias mais
pobres se alimentam basicamente de feijão, arroz e uma carne bem barata, ovos ou nada,
poucos ou nenhum dia se come bife de primeira.
Diante do agravamento da situação, levando em conta que já houve morte de convid-19 e os
números de infectados aumentam diariamente, as atividades do Conselho vão se
intensificar, para alimentar todos e impedir que mais pessoas venham a morrer.