Sete horas da manhã o Conselho Popular da Bela Vista estava começando as atividades, coletar lenha, colocar comida no fogo, e uma equipe já estava distribuído o jornal Voz do Bairro número 10 e chamando os moradores para a reunião das 10 horas.
O cardápio foi macarronada, espaguete com molho vermelho de carne moída e queijo parmesão, bastante elogiado, diziam “muito saboroso, adoro macarrão” diz Daniela, uma das crianças presente.
Passando de casa em casa nas ruas mais esquecidas das autoridades, sem pavimentação, sem rede de esgoto, mesmo o sistema de tratamento de água funcionar no bairro, o jornal era entregue, palavras tipo “ bom dia minha amiga, olha o nosso jornal número 10 pegue o seu e leia com toda a família”, era dito de porta em porta, cem exemplares distribuídos e aceito por todos que recebiam animados vindos das mãos dos próprios vizinhos. A pergunta da manhã “ qual é o almoço hoje? Um grupo de crianças que acompanhava com adesivos fora Bolsonaro colado pelo corpo, gritavam “ macarronada”.
Água fervendo no fogo, carne sendo cozida, a reunião do Conselho começa “ O preço do arroz e do óleo tá um absurdo, imagina pagar 8 reais em um kg de arroz?”
Nesse clima de indignação foi iniciada a reunião, “ É pressionar o prefeito a abrir o restaurante aqui na Bela Vista, se um grupo de pessoas sem recursos consegue servir pela vigésima vez uma almoço para 300 pessoas, imagina a prefeitura. O prefeito não pode ficar usando o próprio comitê eleitoral, precisa abrir um restaurante onde cada um vai e pega sua refeição e para os que ficou em casa”.
“Sábado que vem tem outro almoço e antes vamos nos reunir novamente, pois esse almoço é uma conquista o Conselho, vocês veem que tem quem conzinha, os que vão recolher os alimentos”.
“A coxa de frango já chegou a 12 reais, com o avanço do governo Bolsonaro, a carestia de vida aumentou, o desemprego aumentou, e quanto mais pobre é a pessoa, mais pobre for o bairro a situação vai ficar pior”.
“ O arroz que era 17 foi para 25, muito caro”.
“O mês de Setembro tá sendo o pior mês de pandemia, no dia primeiro tínhamos 95 pessoas contaminados, no dia 27 já são 198 pessoas, e 5 óbitos”.
Ainda foi discutido o problema da volta às aulas, a abertura dos comércios e o cardápio do próximo almoço.
E o momento mais esperado chegou, a distribuição do almoço, a fila foi montada e cada membro da família pegava o seu e para os que ficaram em casa.
Assim foi o super sábado do Conselho Popular de Saúde do Bairro Alto da Bela Vista, com suas 3 atividades fixas: jornal, reunião e almoço. Os próprios moradores de forma independente seguindo a organização em defesa das necessidades básicas durante a pandemia.