Nos seus pronunciamentos e entrevistas, alguns dos principais ídolos da esquerda, como o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta (DEM), na sua gestão no Ministério da Saúde, os reacionários governadores João Doria (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-RJ), têm usado o bordão “fique em casa”, amplamente repetido pela imprensa golpista como sendo a “fórmula mágica” para conter a pandemia que já matou mais de 20 mil brasileiros e infectou mais de um milhão, segundo estimativas mais contidas, da própria imprensa capitalistas que consideram a evidente subnotificação organizada pelos governos da direita.
Como parte de sua política dominante na etapa atual de seguir totalmente à reboque da burguesia, buscando uma “santa aliança” com uma de suas alas golpistas, em nome de criar uma bloco de oposição a Bolsonaro, a esquerda burguesa e pequeno-burguesa tornaram seus o lema da direita. E não se cansa de repetir: “fique em casa”.
“Fique em casa e cobre a proteção do Estado!“, conclama matéria publicada no sitio Vermelho, ligado ao PCdoB.
“Se puder, permaneça sempre em casa“, recomenda o sítio do Psol.
Como outros governadores da esquerda e da direita “Wellington Dias [PT-PI] pediu aos piauienses que fiquem em casa”
Abundam nos discursos e páginas da esquerda na internet a mesma recomendação propagada pela direita.
Nem mesmo o brutal aumento das mortes em casa e a total falta de medidas por parte dos governos fizeram a esquerda mudar de posição.
De nada adiantou a evolução da pandemia no País e os sinais evidentes de que toda a burguesia está preparando medidas para reduzir o isolamento. Ainda que a burguesia intensifique essas medidas e busque lucrar com a repressão, como a aplicação de multas, a esquerda segue firme na devoção à quarentena e ao isolamento social, que constituem – de fato – uma farsa que serve para a direita ocultar a realidade de que nada está sendo feito para combater o coronavírus. Não há testes em massa, não há pesados investimentos na saúde pública, nada de distribuição gratuita de equipamentos de proteção e de higiene, os quais faltam até mesmo para os profissionais de saúde.
Essa esquerda abandonou, por completo, a posição de atuar em defesa das reivindicações próprias dos explorados diante da crise; virou ventríloquo da direita e abriu mão de qualquer luta para exigir condições para que o povo possa ficar em casa efetivamente com as devidas condições e protegido do avanço da pandemia.
Um aspecto mais claro dessa situação é o abandono pelos sindicalistas, de esquerda e de direita, dos milhões de trabalhadores impossibilitados de ficarem em casa, como metroviários, trabalhadores da construção civil, dos correios, da própria saúde etc. que, como os demais, tiveram seus sindicatos fechados e foram abandonados à própria sorte, pelos sindicalistas “em quarentena”.
Nesse sentido, a esquerda que adotou tal política tornou-se cúmplice do verdadeiro genocídio que a direita está promovendo contra o povo. Em vez de combater a política da direita, passou a atuar para “conscientizar” o povo da suposta legitimidade dessa política.
Essa situação se viu reforçada no 1º de Maio, quando a direita abriu mão de realizar um ato próprio dos trabalhadores para debater suas condições atuais e a luta por derrotar a ofensiva da direita e optou por fazer um ato de “unidade” com os que estão, junto com Bolsonaro, promovendo essa ofensiva; a mesma direita que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, prendeu Lula e cassou direitos que foram resultados de décadas de lutas da classe operária.
A direita tem toda razão para defender o “fique em casa”, em um momento em que enxerga claramente – como declarou o próprio presidente – uma situação que caminha para a explosão social, diante da fome e miséria que está impondo ao povo. Mas, para os trabalhadores e a esquerda, esta orientação não é mais do que uma política suicida, ainda mais quando a extrema-direita em crise faz aberta campanha a favor do golpe militar e do aprofundamento da ditadura que se impôs ao País.
Com a política do “fique em casa”, a esquerda faz a propaganda e a direita se beneficia, enquanto prepara o genocídio do povo por doença, pela fome e pela repressão.
É preciso abandonar essa política suicida e adotar a organização independente dos explorado, nos Comitês de Luta, nos Conselhos Populares e por meio da reabertura dos sindicatos e demais entidades de luta dos trabalhadores.
Ao mesmo tempo, ampliar a exigência de que a CUT – maior Organização dos explorados – convoque uma Conferência Nacional das organizações de luta, da esquerda, para debater um programa dos explorados diante da crise e aprovar um plano de mobilização para derrotar a direita, o que não será possível com a política do “fique em casa”.