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Ho ho ho

Conlutas entrega greve no Recife de presente de Natal aos patrões

Gestão do PSTU e PSOL usaram as "compras natalinas" como pretexto para suspender o movimento

Na última quarta-feira (23), o Sindicato dos Rodoviários do Recife e Região Metropolitana, controlado por uma coalizão entre o PSOL e o PSTU decidiu suspender a greve da categoria contra os seus patrões. O motivo, segundo publicamente anunciado em nota, seria o de “respeitar a população” durante o período de compras natalinas.

Uma das categorias mais duramente afetadas pela pandemia de coronavírus é, sem dúvida, a dos rodoviários. E o caso do Recife não foge à regra: dezenas de motoristas e cobradores foram mortos. Os que sobraram, tiveram de se deparar com uma quantidade absurda de ataques.

É difícil dizer o número exato de mortos por causa da própria indisposição do sindicato em denunciar a situação dos rodoviários. A última vez que a gestão O Guará, filiada à CSP/Conlutas, atualizou os seus números foi no dia 27 de maio! Nove trabalhadores já haviam morrido em razão da COVID-19:

“Sérgio Mateus de Queiróz, cobrador da empresa Borborema, Izaias Paulino, supervisor da Rodotur e Alexsandro Gonçalves, motorista de ônibus da empresa Caxangá. Estes são apenas três dos nove funcionários que trabalhavam em empresas de transporte público com atuação na Região Metropolitana do Recife, que tiveram suas vidas ceifadas pelo novo coronavírus” (Jornal do Commercio, 27/05/2020, em cobertura de protesto do sindicato contra mortes por coronavírus).

Naquela época, mais de 2,5 mil pessoas já tinham morrido em Pernambuco por causa do coronavírus. Considerando-se que hoje quase 10 mil pessoas já morreram em Pernambuco por coronavírus, pode-se projetar que, atualmente, cerca de 36 rodoviários já perderam a vida na pandemia. A proporção apresentada em maio também demonstra que o rodoviário tem quase 70% de chance a mais de morrer por coronavírus do que a população em geral.

Vistos os dados relativos às mortes, vejamos então os dados relativos aos ataques no âmbito trabalhista.

Em março de 2020, o Sindicato dos Rodoviários denunciou que cerca de 3 mil trabalhadores teriam sido demitidos das empresas que operam na Região Metropolitana, o que representaria cerca de 15% de toda a categoria! Após uma reunião entre a gestão O Guará e os patrões, intermediada pelo governo do PSB, as demissões foram parcialmente revertidas, mas os trabalhadores sofreram estrondosas perdas salariais, baseadas na famigerada MP 936. Na época, o presidente do sindicato, o psolista Aldo Lima, comemorou a grande “vitória” e ainda saiu elogiando o Ministério Público do Trabalho:

“Depois de muitos dias de luta, conseguimos reverter essa demissão em massa, é uma vitória não apenas dos rodoviários, mas de todo o povo pernambucano. Também não podemos deixar de reconhecer o papel importante do MPT. Sabemos que essa MP que reduz os salários não é o ideal, mas pelo momento difícil que o país está passando, a garantia dos empregos é sim uma importante vitória. Assinamos um acordo para manter o exército de trabalhadores unido e cancelar todas as demissões, pois outras lutas virão e continuaremos perseverantes buscando dias melhores para a categoria”.

E para fazer demagogia com sua base, ainda prometeu: quem tivesse o salário reduzido, poderia também reduzir sua contribuição sindical! Melhor acordo impossível: menos salário para os trabalhadores, mais lucro para os patrões e menos dinheiro para os sindicatos… Nem Bolsonaro sonhou tão alto.

Como era de se esperar, o acordo não serviu de nada: poucos dias depois, vários rodoviários foram demitidos.

Junto às demissões, os patrões aproveitaram as condições da pandemia para implementar um antigo plano: a dupla função. Isto é, o fim do emprego de cobrador e o acúmulo da função por parte do motorista. Segundo a imprensa burguesa, em outubro, 67% das linhas de ônibus já funcionava, sem cobrador!

A luta demagógica contra a dupla função sempre foi a principal plataforma para que a oposição O Guará vencesse as eleições e assumisse a gestão do sindicato, que era controlado, havia muito tempo, pela Força Sindical. Com as tentativas dos patrões de implementarem a dupla função, Aldo Lima e sua trupe viram então uma grande oportunidade de fazer disso um trunfo para a sua gestão. O desastre, contudo, foi completo.

As 3 mil demissões, as mortes por coronavírus, a ameaça da extinção de uma categoria por completo e toda a insegurança no emprego foi levando os rodoviários a uma revolta crescente. No entanto, O Guará, seguindo a tradição pelega da CSP/Conlutas, evitou ao máximo uma greve conta os patrões. Como alternativa, tirou da manga uma carta típica dos oportunistas, que nunca levou a vitória alguma: o lobby parlamentar. Por meio da bancada das Juntas (PSOL), Aldo Lima conseguiu que um projeto fosse discutido na Assembleia Legislativa (Alepe) para impedir a dupla função. O projeto acabou sendo aprovado, e a dupla função ficou, em tese, proibida em Pernambuco.

A CSP/Conlutas não chamou uma única greve contra a dupla função, apenas protestos pontuais e com a participação de poucas pessoas. Ao mesmo tempo, fez questão de apontar o PP, o PSC, o PSB e outros tantos golpistas como “seu vereador”, aliado do rodoviário e da população.

Nesse período, o TST chegou a proibir que o sindicato fizesse paralisações, sob o risco de pagar multa diária de R$30 mil. Não há uma única nota no sítio do sindicato denunciando a ditadura do TST, mas há mais de uma matéria fazendo lobby com parlamentar direitista e bolsonarista…

Obviamente, a lei não serviu para coisa alguma. Os patrões, por meio de seu sindicato, a Urbana-PE, declararam abertamente que não iriam obedecer a lei. Depois de todas as determinações contra a dupla função, ainda insistiram e obrigaram os motoristas a saírem da garagem sem cobrador. Diante da completa desmoralização de sua política e da revolta crescente, Aldo Lima não viu outra alternativa a não ser a política que já deveria ter seguido havia muito tempo: chamar a greve contra os patrões.

A greve já nasceu com todos os indícios que morreria logo. O sindicato colocou basicamente como única pauta o problema da dupla função, e ainda sob uma perspectiva parlamentar e oportunista. Sequer colocou a pandemia como uma preocupação da categoria. E, o que chama mais a atenção: afirmou várias vezes que poderia acabar a greve a qualquer momento, desde que os patrões lhes escutassem. A greve chegou, inclusive, a ser adiada por mais de uma vez.

No dia 23 de novembro, o sindicato cancelou a greve em uma negociação ridícula, baseada nas seguintes condições:

“1 – Publicação, por parte do Grande Recife Consórcio de Transporte, de uma Portaria proibindo a prática da dupla função no Recife e em toda a Região Metropolitana, com a consequente obrigatoriedade da presença do cobrador em todos os veículos. Os efeitos desta Portaria entrarão em vigor no dia 03 de Dezembro de 2020;

2 – Estabilidade de 06 meses para toda a categoria;

3 – Fim da intrajornada! Hora trabalhada será hora paga;

4 – Reposição de 2,69% sobre o salário e o ticket, retroativo ao mês de Julho, a ser pago no próximo mês de Dezembro;

5 – Permanência da negociação, entre rodoviários e patrões, em torno do reajuste definitivo do ticket. Negociação esta que será retomada semana que vem”.

Sequer a pandemia é citada, nem a perspectiva de receber pelo salário roubado dos rodoviários através da MP 936!

Quando finalmente a greve começou, na última terça-feira (22), recebeu toda a típica pressão da imprensa burguesa para acabar logo. A Rádio Jornal, por exemplo, fez um programa especial para avaliar o impacto da greve nas compras de Natal. E O Guará escutou o recado… Aqueles que nunca quiseram se mobilizar contra os patrões, encontraram ali um argumento ideal e suspenderam a greve um dia depois de ela finalmente começar!

Ceder às pressões da imprensa burguesa não deve fazer parte de qualquer organização do movimento operário. A desculpa da pandemia, de que não poderia sair de casa, aparece, aqui, apenas com uma nova forma. Nova, porém antiga: é o mesmo pretexto daqueles que, em respeito às ambulâncias, ao “transtorno”, à vida do cidadão de bem ou a qualquer outra consideração reproduzida pela opinião pública da classe média, abandona a luta coletiva.

E neste caso, nem mesmo o argumento da “necessidade” é válido: a capitulação da Conlutas é, por um lado, para o que há de mais conservador e podre na sociedade, que são as festas natalinas coordenadas pela burguesia, e, por outro, uma tentativa de passar por cima da pandemia de coronavírus. De fato, impedir que o povo faça suas compras de Natal seria o maior crime que alguém poderia cometer durante uma pandemia…

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