Fato recorrente na realidade dos sertões brasileiros, os conflitos agrários, motivados pela expansão incessante do agronegócio (este que a rede Globo diz que é pop) realiza um verdadeiro banho de sangue contra as mais diversas comunidades que lutam por um pedaço de terra ( pequenos agricultores, quilombolas, indígenas…). Desta vez não foi diferente com o povo indígena Gamela da comunidade Barra do Correntim, no município de Bom Jesus, no Piauí, distante 635 km da capital Teresina.
Na fome insaciável de expandir suas terras, sobretudo incitados pelo Golpe de Estado de 2016 e pelo presidente Bolsonaro, que em vários momentos já se manifestou abertamente a favor do massacre dos povos indígenas, os latifundiários derrubaram e incendiaram as moradias de três integrantes da comunidade, no último dia 25 de junho. Como de costume, a polícia militar mais uma vez realizou o trabalho sujo à serviço da elite agrária, fazendo uso de seus tradicionais métodos de ataque fascista. Segundo uma liderança do local, os policiais já são viciados em receber propina para realizar este serviço de capanga. Os indígenas também afirmam que o comandante policial responsável pela atrocidade seria o cabo Cavalcante, cuja autorização judicial de acesso à comunidade é desconhecida, já que neste tempo de pandemia do coronavírus não há juiz para autorizar a entrada de policiais no local. Ainda nas palavras da liderança indígena, o documento apresentado pelo latifundiário responsável pelo ataque é adulterado. No documento original, a medida do terreno era de 40 hectares, e agora o atual documento apresenta um terreno medindo surpreendentes 5.018 hectares.
A área do MATOPIBA (acrônimo com as iniciais dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), região onde ocorreu o ataque, é marcada por intensos conflitos agrários justamente por estar situada em uma fronteira agrícola, que vem sendo expandida nos últimos tempos com o avanço da agricultura empresarial no Cerrado, fazendo os grandes fazendeiros empregarem a violência para expulsar a população que lá vive e ocupar suas terras. Detalhes deste processo se encontram em estudos elaborados pelo Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia, publicados no Boletim Indígenas Gamela no Cerrado piauiense, as únicas áreas onde a vegetação nativa permanece preservada são as habitadas pelos indígenas e outros povos do Cerrado. No mesmo estudo são relatados vários casos de agressões das quais os Gamela foram alvo, como grilagem de terra, escolta armada de fazendeiros, ameaças de morte, uso excessivo de agrotóxico, envenenamento dos recursos hídricos, confinamento nos baixões, expulsão dos roçados a tiro, proibição de deslocamento e ameaça de morte.
Na tentativa de coibir novas agressões dos latifundiários, a comunidade avisou o ocorrido ao Projeto Nova Cartografia da Amazônia e prestou queixa à Fundação Nacional do Índio, (FUNAI) e à Defensoria Publica da Uniao (DPU). Apesar de terem feito a denúncia, os Gamela ressaltam que a única solução para os confrontos é a demarcação da terra indígena.