De acordo com reportagem da revista Carta Capital, um deputado do PSDB não identificado teria revelado que “na época do impeachment, a inteligência do Exército tinha seus próprios cálculos quanto à votação e acertou na mosca, 367 deputados contra Dilma”. Não se trata de exercício divinatório: se os militares tinham a contabilidade exata da votação era porque estavam em contato com aqueles que financiaram o golpe e compraram os votos dos parlamentares. O Exército participou da organização do golpe.
Como se sabe, não há golpe de Estado sem apoio das Forças Armadas. Se Dilma Rousseff foi deposta por meio de um impeachment fraudulento em 2016, é porque o Partido dos Trabalhadores não possuía apoio militar suficiente para resistir, e que portanto o Exército Brasileiro apoiou o golpe. O fato é comprovado por uma entrevista do próprio Comandante-Geral do Exército Brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, concedida à revista Veja em abril de 2017 – um ano após o Circo de horrores da votação na Câmara dos Deputados. Segundo o general, o “Exército foi sondado para decretar estado de defesa” contra os golpistas – e, claro, negou-se a fazê-lo.
Além disso, conforme depoimento de Lúcio Funaro, o operador da compra dos deputados com dinheiro do imperialismo, fora o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em Brasília, circularam então rumores sobre a presença de grupos de estrangeiros engravatados e sem câmeras (não eram jornalistas) nas imediações dos anexos da Câmara durante a votação decisiva.
Se a inteligência do exército tinha a “conta certa” de votos naqueles dias incertos, era porque elementos da cúpula das Forças Armadas participaram da articulação para garantir seu sucesso. O anúncio de Hamilton Mourão sobre um golpe militar por “aproximações sucessivas” – em setembro de 2017 –, na verdade anunciava abertamente uma operação já em andamento. Atestam tal hipótese não apenas a presença de Sérgio Etchegoyen à frente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) no Palácio do Planalto, como também a violenta intervenção que já ocorrera no Espírito Santo, e depois se expandiria para o Rio Grande do Norte e principalmente para o Rio de Janeiro – Estado até hoje comandado pelas Forças Armadas.
Os oficiais não constituem porém uma classe com interesses próprios. Assim como em 1964, são apenas agentes de confiança do imperialismo, prontos para usar a força contra autoridades civis que se desalinhem dos desígnios externos. Sobretudo, estão prontos para impor uma ditadura capaz de assegurar os brutais ataques aos direitos da população brasileira planejados pelos golpistas. Por isso, não cabe qualquer ilusão de que as instituições dominadas pelos golpistas entregarão o poder ao povo por meio de eleições ou de qualquer processo judicial. Urge organizar a classe trabalhadora e mobilizar a população em comitês de luta contra o golpe. A perseguição que se anuncia a organizações e lideranças de esquerda, como no caso de Lula, tornará a tarefa cada vez mais mais difícil – sobretudo com a eleição de Jair Bolsonaro que se avizinha. Fora, Bolsonaro! Não à fraude eleitoral! Liberdade para Lula!