Dois meses depois da derrota nas eleições municipais de São Paulo, Luiza Erundina (PSOL), já lançou sua candidatura a um novo cargo. Dessa vez, a mais experimentada deputada do PSOL será candidata à presidência da Câmara dos Deputados. Sua candidatura não tem chance alguma sequer de chegar ao segundo turno. Não se sabe nem mesmo se todos os deputados de sua própria legenda votarão nela. Contudo, de acordo com a própria Erundina e seus correligionários, a candidatura do PSOL serviria para marcar uma determinada posição. Será mesmo?
Em seu manifesto, Erundina afirma que sua candidatura é “para fora”, “para os que dão sentido à nossa presença aqui, e para aqueles parlamentares que sabem que o Congresso democrático só é possível ouvindo a voz das ruas e as demandas populares”. Seu objetivo, “nas ruas e no parlamento”, seria o de “oferecer uma plataforma concreta que dialogue com as principais demandas do povo brasileiro, com a luta das mulheres, dos negros e negras, da população LGBTQI+ e contra as políticas de austeridade”. Em resumo: a candidatura do PSOL na Câmara seria, segundo seus parlamentares, um compromisso com a militância…
Esse compromisso, obviamente, é uma farsa. Seu programa não apresenta uma única política concreta, que aponte no sentido da defesa dos interesses do povo. Erundina diz ser a favor do impeachment de Bolsonaro, mas não explica em que termos — defende, por exemplo, a substituição do atual presidente pelo general Mourão? A deputada fala em defender as mulheres, mas não se coloca claramente a favor do aborto. Afirma que vai combater o “racismo institucional”, mas não diz como. Promete valorizar o salário mínimo, mas não propõe um valor. Por fim, declara que “vidas negras importam”, mas não defende a dissolução da Polícia Militar.
Mas mesmo que as propostas fossem, de fato, concretas, a candidatura de Luiza Erundina não é um compromisso com a militância. Ou, pior, é um compromisso que vai durar apenas o primeiro turno. O PSOL, há semanas, já definiu qual será a sua política para as eleições na Câmara: no primeiro turno, apoiará Erundina; no segundo apoiará o direitista e golpista Baleia Rossi (MDB).
Essa resolução atípica, de decidir o voto no segundo turno antes mesmo da votação do primeiro turno, revela algumas questões importantes. Em primeiro lugar, que o próprio PSOL já considera a sua candidatura como um fator nulo nas eleições, visto que já admite que não irá para o segundo turno e que outro candidato será apoiado pelos deputados da legenda. Em segundo lugar, que o voto real do PSOL — isto é, o voto que valerá alguma coisa — não será o voto em seu próprio candidato, mas sim no candidato de outro partido. E, em terceiro lugar, que o voto real do PSOL será dado, portanto, a um candidato que representa o exato oposto de qualquer compromisso possível entre um partido de esquerda e o povo.
Baleia Rossi, como o próprio Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados, escreveu em seu livro, é uma das peças-chave do golpe de 2016. E, mesmo que ele pessoalmente não tivesse um histórico golpista, ele é o candidato oficial do bloco golpista que derrubou o governo de Dilma Rousseff, prendeu o ex-presidente Lula e dá sustentação ao governo Bolsonaro. É, portanto, o candidato oficial da direita nacional, da burguesia pró-imperialista inimiga do povo, responsável por mais de 220 mil mortes durante a pandemia.
O programa de Baleia Rossi é, inclusive, o exato programa que é criticado por Erundina em seu manifesto:
“Esse programa econômico, conduzido por Paulo Guedes, possui três pilares centrais: redução do tamanho do Estado por intermédio da manutenção da austeridade permanente cristalizada pela Emenda Constitucional nº 95; privatizações generalizadas; e a alteração na correlação de forças na relação capital versus trabalho via desregulamentação trabalhista para manutenção de um grande exército industrial de reserva – o que reduz a demanda por direitos, comprime salários e enfraquece a capacidade de organização da classe trabalhadora”.
Qual seria o programa, então, de Rodrigo Maia, Michel Temer, Fernando Henrique Cardoso, Luciano Huck e de toda a corja golpista que defende a candidatura de Baleia Rossi? Obviamente, é o mesmo programa econômico que o próprio Bolsonaro. Até porque, em tudo aquilo que é essencial, a direita nacional, apresentada como “científica” e “civilizada” em várias oportunidades, defende o mesmo programa devastador da política neoliberal que o governo Bolsonaro. E, justamente por contar com maior confiança do imperialismo, costuma ser ainda mais eficiente nos ataques contra o povo.
Pelo apoio do PSOL a Baleia Rossi, vê-se, portanto, qual é o seu compromisso real: a política imunda da frente ampla, de colaboração total com os inimigos do povo.