Em edição do dia 29 de julho, o portal Vermelho, por meio de seu editorial, apresenta um balanço da tentativa de Flávio Dino (PCdoB-MA) de estabelecer um plano de emergência para o desemprego. Recentemente, Dino enviou um ofício ao presidente ilegítimo Jair Bolsonaro propondo uma reunião com todos os governadores do Brasil e com o próprio Bolsonaro para formular um plano desse tipo. O presidente ilegítimo, no entanto, desdenhou da proposta de Flávio Dino e lhe ofereceu uma “banana” para demonstrar seu completo desprezo pelo governador.
Ninguém esperava que o resultado fosse diferente. Bolsonaro já havia se referido a Flávio Dino como o “pior” governador dos “paraíbas” — termo pejorativamente utilizado com nordestinos. E, no fim das contas, a última coisa na qual Bolsonaro seria um plano para atender aos interesses dos trabalhadores, que hoje se encontram desempregados ou relegados às piores condições salariais e de trabalho possíveis.
Corretamente, o editorial chega à conclusão de que a resposta de Bolsonaro é a demonstração prática de que seu governo é, deliberada e conscientemente, um governo contra os trabalhadores:
“A inflexibilidade de Bolsonaro confirma que seu governo não arreda pé do propósito de um regime autoritário. Tampouco está disposto a rever sua política criminosa no trato da economia e da propagação da pandemia do coronavírus, o que resulta na trágica contabilidade de mais de mil por mortos por dia, em média, e na disparada do desemprego que leva milhões de trabalhadores e suas famílias ao desespero”.
Em meio à análise, o texto chega à conclusão absolutamente correta de que a única maneira de defender os interesses do povo é por meio da derrubada do governo:
“A soma dessas atitudes com a constatação de que o governo Bolsonaro não vai mudar de rumo resulta na óbvia conclusão de que ele precisa de um ponto final”.
De fato, o problema fundamental do governo Bolsonaro não é sua “loucura” ou sua “maldade”, mas sim sua orientação. Trata-se de um governo que, desde a sua origem, esteve diretamente ligado aos capitalistas. Bolsonaro só se tornou presidente porque a burguesia permitiu que ele chegasse ao poder. E a contrapartida para isso foi que Bolsonaro servisse como um verdadeiro capacho dos interesses dos capitalistas.
Nesse sentido, o programa econômico de Bolsonaro, pautado na política neoliberal, é o programa da burguesia que o colocou no poder. E seu caráter autoritário é o resultado da consciência da burguesia de que, para impor o seu programa, será necessário se chocar duramente com o povo. Ou seja, para derrotar o governo Bolsonaro e toda a ofensiva sobre os direitos dos trabalhadores, é necessário travar uma lutra contra a burguesia de conjunto.
O editorial do Vermelho, contudo, acaba se perdendo a partir desse ponto. Em primeiro lugar, o texto é incapaz de formular uma política em torno da derrubada do governo de fato:
“cumpre, diante desse cenário, às forças democráticas e populares (…) uma articulação (…) para pressionar pela aprovação de um plano de emergência”.
Ora, mas de que adiantaria aprovar um plano de emergência se continuaria cabendo ao governo Bolsonaro a sua aplicação?
Em segundo lugar, o editorial apresenta como política da esquerda uma “união de amplos setores democráticos para criar barreiras de contenção ao bolsonarismo”. Conforme discutido em vários artigos neste diário, a união com “amplos setores”, defendida pelo PCdoB, é nada mais que a “frente ampla”. Isto é, uma frente de colaboração entre a esquerda e a direita. Entre o povo e os inimigos do povo, que deram o golpe de Estado em 2016 e apoiam, direta ou indiretamente, o governo Bolsonaro.
Uma frente desse tipo, além de ser imensamente impopular, consistiria em uma frente com a burguesia contra um governo da burguesia. Como que tal política poderia dar certo? Obviamente, não dará. Se a burguesia formar alguma frente com a esquerda contra o governo Bolsonaro, será justamente para sabotar essa frente, impedir que ela se desenvolva. A menos que a esquerda esteja disposta a seguir um programa ainda mais nefasto que o do próprio governo Bolsonaro.
À palavra de ordem de “frente ampla”, é preciso que os trabalhadores respondam com a palavra de ordem de “mobilizar o povo pelo Fora Bolsonaro”. É preciso formar comitês de luta em todo o País e sair às ruas para derrubar imediatamente o governo genocida, que já levou mais de 92 mil pessoas à morte.