Como sempre advertido por esse Diário, a proposta de segurança pública de Bolsonaro e seus comparsas nunca envolveu o armamento da população. Ao contrário: todos os projetos de lei da chamada “Bancada da Bala” no sentido de revogar o estatuto do desarmamento impõem barreiras econômicas e sociais àqueles que desejarem se armar. Ou seja: o “armamento da população” defendido pela direita e por Jair Bolsonaro na verdade é o armamento de jagunços formados em academias paramilitares de vigilantes, é o armamento da própria polícia e de todas as forças de repressão, é o uso do Exército para assassinar a população, como ocorre hoje no Rio de Janeiro.
Para além dos projetos de lei demagógicos encaminhados por direitistas no Congresso, as ações dos bolsonaristas, quando investidos de poder, constituem demonstrações cabais de tal política de extermínio da população pobre, dos movimentos de luta pela terra no campo, dos moradores de comunidades nas periferias das grandes cidades.
Ainda quando candidato ao governo de São Paulo – e buscando justamente aproximar seu discurso do bolsonarismo – o almofadinha João Dória (PSDB), uma das figuras mais grotescas da política nacional – fez questão de bradar que, sob seu comando, a Polícia Militar vai “atirar para matar”. Para esse mauricinho, nascido em berço de ouro, a população pobre não tem direito aos princípios mais elementares da Justiça: presunção de inocência, julgamento justo, nada disso: na cabeça de cada policial estaria instalado um tribunal capaz de decidir entre a vida e a morte de uma pessoa.
Na última quinta (1º), foi a vez de outro bolsonarista investido de poder reafirmar a mesma política. Wilson Witzel, eleito governador do Estado do Rio de Janeiro, prometeu dar autorização prévia à polícia para matar portadores de fuzis. Mas como distinguir entre espingardas legais e fuzis à distância, durante uma ação? Como diferenciar um guarda-chuvas, um tripé de um cinegrafista, de um fuzil? Talvez atirando primeiro e verificando depois.
Na prática, o que os bolsonaristas pregam é o assassinato indiscriminado e amplo de qualquer civil que esteja armado – ou mesmo que pareça estar armado. É evidente que tal política vai na contramão do armamento da população que dizem defender. O discurso de segurança pública de Bolsonaro é tão falso quanto seu nacionalismo: uma das muitas mentiras que compõem sua estratégia diversionista. Para Bolsonaro, trabalhador armado é trabalhador assassinado.