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Artistas lutam para sobreviver

Como o teatro sobreviveu a guerras e pandemias

Os artistas sempre se mantiveram através de uma luta dentro da luta de classes, criticando o sistema vigente. E hoje não é diferente. 

A história da arte é uma ferramenta poderosa para nos ajudar a pensar sobre nosso tempo, inclusive em momentos de guerras e pandemias. A cultura sempre foi uma inspiração nesse processo e ainda continua sendo.

Na era Medieval, por exemplo, esta batalha artística, sendo controlada pelos senhores feudais, por reis e rainhas, se expressaram segundo os interesses econômicos dessas classes vigentes no momento. Em uma mescla de dominação de classe, hora através da força de seus exércitos, hora pelo poder econômico, ou ainda pelo poder religioso (espiritual e material), comandaram – controlaram, ditaram – as expressões artísticas das classes inferiores, dificultando sua livre expressão.

Partindo das epidemias mais conhecidas, sabemos das grandes tragédias da Peste Negra e da Gripe Espanhola, que influenciaram o surgimento do Renascimento nas Artes e algumas Vanguardas Artísticas Europeias. Mas também tivemos outras pestes na antiguidade, tais como: Peste de Siracusa (395 a.C.); Peste Antonina (166 a.C); Peste Justiniana (483-565 d.C.), que ocasionou a morte do Imperador Justiniano.

O homem medieval tinha um pensamento mágico, místico, naquela época. Tudo que acontecia girava em torno das religiões, pois estas pregavam, de diversas formas, a ira divina, com penas de os seguidores não serem salvos após a morte. Sob a luz – ou a escuridão -, destes fatos, a arte medieval esteve muito relacionada com esta ideia da morte, das trevas, do macabro. A separação entre religião e ciência só irá ocorrer após o Renascimento.

A peste Negra, ou peste bubônica, surgiu em torno de 1341 e teve a estimativa de 75 a 200 milhões de mortes na Eurasia, Europa e Ásia, lembrando sempre que no século XIV não existiam estatísticas tão avançadas. As fontes históricas afirmam que teve origem na Ásia e chegou à Europa, pela Itália, através da rota da seda. De lá, a bactéria provavelmente transportada por pulgas dos ratos que viajavam em navios mercantes genoveses, espalhou-se pelo mediterrâneo, atingindo o restante da Europa. Teve seu apogeu entre 1347 a 1351, levando um terço da população a ser dizimada, considerando-se somente a Europa.

Um dos epicentros da doença no continente foi a região da Toscana, na Itália. Berço de artistas como Sandro Botticelli, Leonardo da Vinci e Donatello, a Toscana viu nascer, no período imediatamente subsequente à pandemia, o movimento renascentista. Antes da peste, artistas davam indícios de como os homens daquele período estavam se vendo, como sujeitos que poderiam transformar a sociedade, não pelo poder de Deus, mas pela organização social. Também indicavam uma valorização do sujeito e de suas emoções.

A situação também desmascarou as promessas fantasiosas da religião, pois pouco importava orar e sacrificar-se, se todos estavam morrendo mesmo assim. A mortandade sem precedentes deu margem para que a moralidade anti-erótica imposta pela Igreja Católica começasse a ser questionada pela população, que, diante da fragilidade da vida e do fracasso dos apelos religiosos, passou a enxergar valor nos prazeres mundanos e imediatos. Ainda no século 14, foi possível observar mudanças nos padrões estéticos que vinham na onda do novo modo de pensar.

Um dos maiores exemplos a serem citados, William Shakespeare, nascido há poucos meses quando a peste bubónica devastou uma boa parte da população de Stratford-upon-Avon durante o verão de 1564, não ficou com memórias dessa peste, mas décadas depois, sentiu na pele, quando a capital britânica caiu em 1606 sob os efeitos de uma outra peste. O bairro onde morava foi um dos mais afetados na capital inglesa e a sua própria senhoria uma das vítimas fatais, e, até mesmo o teatro onde as suas peças eram representadas, o Globe, foi fechado por muito tempo devido à doença. Esta praga já vinha se espalhando nos três anos anteriores, matando 10% da população de Londres e obrigando Shakespeare a isolar-se em casa em quarentena para escapar ao contágio.

Neste momento, os atores teatro eram os primeiros a sofrer consequências, pois era ideia feita que eram responsáveis por muito da vida desregrada de parte da população e a causa dos castigos divinos. Tanto que um pregador da altura tinha a seguinte frase: “A causa das pestes é o pecado, e a causa do pecado as peças”.

A peste que atingiu Londres entre 1603 e 1613, fez com que os teatros fechassem a maior parte desse tempo, cerca de 78 meses. Neste período, houve o apogeu da escrita de Shakespeare, e, em 1606 uma das peças de Shakespeare foi representada pela primeira vez perante o rei Tiago I, antes de o Globe voltar a ser encerrado devido à peste.

Mais tarde, pelo menos outros dois momentos de ruptura viriam a se mostrar particularmente influentes nas artes visuais, em especial na Europa e nos Estados Unidos: o período entre guerras, que tem início com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), acompanhado da pandemia de gripe espanhola, e o pós-Segunda Guerra (1939-1945), no qual estudiosos situam o início da arte contemporânea.

O grande conflito entre nações, que pôs fim à Belle Époque, atravessou os movimentos de vanguarda artística iniciados naquela década, como o Expressionismo, o cubismo e o futurismo. Sob o reflexo da carnificina da Primeira Guerra, os artistas que participaram e viram do que os países capitalistas eram capazes para dominar o mundo, foram levados a refletir sobre o “exemplo a ser seguido”: como a violência desta guerra, as destruições e milhares de vidas ceifadas poderiam representar um ideal positivo?

Os grandes traumas nos exigem novos discursos, novas formas, novas posições na vida, na medida em que atestam uma certa falência, um certo fracasso de uma forma de viver. Isso nem sempre se efetiva de fato, pois a história sofre de reminiscências, e os traumas retornam, por vezes disfarçados, mas a arte resiste a essa repetição e arrisca propor, pensar, imaginar, desejar outros horizontes.

Os artistas sempre se mantiveram através de uma luta dentro da luta de classes, criticando o sistema vigente e hoje não é diferente.

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