A maior associação de policiais (police union) dos Estados Unidos, a PBA –Police Benevolent Association of the City of New York (Associação Benevolente Policial da cidade de Nova York), com aproximadamente 24,000 membros, declarou em agosto passado apoio à candidatura de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos.
O líder da PBA, Patrick J. Lynch, encontrou-se com o próprio Donald Trump em um clube de golfe de Nova Jersey, e na ocasião fez um discurso à imprensa. Lynch declarou que o apoio da associação de policiais à candidatura se deve ao fato de muitos policiais estarem assumindo a posição de “bodes expiatórios” nas mãos dos governos estaduais e municipais, e que a frequente punição dos policiais estaria levando o caos às ruas.
“Sr. presidente, nós estamos lutando por nossas vidas lá fora. (…) Nós não queremos que isso se espalhe para o resto do país. Nós precisamos de sua poderosa voz pelo país”, declarou Lynch.
A declaração do líder da associação de policiais veio se somar à explosiva tensão racial que se desenvolve nesse momento nos Estados Unidos. Segundo levantamento do jornal The New York Times, 90% dos associados da PBA são policiais brancos, e o apoio à candidatura de Trump seria um posicionamento dos policiais em resposta às revoltas de negros contra a violência policial, congregadas sobretudo no movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam).
O posicionamento da PBA demonstra um aumento da polarização política nos EUA, onde a revolta da população negra, o aumento do ativismo tanto de tipo anarquista quanto de tipo fascista e a aproximação da eleição presidencial em novembro provocam um cenário de crise generalizada do regime político. Tudo isso em meio ao pior cenário mundial da epidemia da Covid-19, e com uma queda de 32,9% do PIB no trimestre passado.
A tomada de posição política das próprias polícias, que há décadas não ocorria, demonstra a gravidade da crise. O estado de Nova York, que tradicionalmente é reduto eleitoral do partido democrata, é também o local onde desponta a politização à direita do aparato repressivo, com o apoio à candidatura republicana de Donald Trump.
O próprio presidente aproveitou o ensejo para amplificar o apoio, reafirmando suas posições no sentido do estabelecimento de um regime de força contra a conflagração social que tem na questão racial uma de suas principais componentes. Desta forma, utiliza a polícia de Nova York como um ponto de apoio para a sua candidatura e também para a organização da extrema-direita.
Desta forma, vêm à luz dois desenvolvimentos. Em primeiro lugar, o crescente engajamento político das polícias, o que aponta para uma instabilidade e polarização cada vez maior do regime político. Em segundo lugar, a afirmação de Donald Trump como um elemento organizador, de aglutinação, da extrema-direita nos Estados Unidos, o que evidencia o aprofundamento das tendências abertamente fascistas da situação política.
Assim, o que se observa no Brasil igualmente se observa nos Estados Unidos e em outros lugares, o que mostra que a tendência fascista é um problema internacional, ligado à crise capitalista, e não um problema das idiossincrasias deste ou daquele país ou governo. A politização aberta das polícias é um grave indicador de que trilhamos um caminho de fortalecimento da extrema-direita, o que inevitavelmente levará a um embate desta com as organizações operárias.