Uma importante parte da campanha mentirosa de manipulação operada pela imprensa burguesa está nos prefixos e sufixos que atrelam a modo de slogans a países, líderes, organizações. Para qualificar o regime militar imperialista implantado a partir de um golpe de Estado em 2014, a BBC – British Broadcasting Corporation – propõe o qualificativo de “democracia híbrida”. A Folha de S. Paulo, por por outro lado, só se refere em suas colunas ao presidente venezuelano legitimamente eleito como “ditador Nicolás Maduro”. O Brasil, que sofreu um grotesco golpe de Estado em 2016 com o impeachment, levando os militares ao poder, segue sendo uma “democracia”, pelo simples fato de ter eleições – não importando se as urnas foram fraudadas, se o principal candidato foi preso, se o judiciário e as forças de repressão estão completamente a serviço do golpe.
A Tailândia, uma monarquia, vinha sendo governada por um governo de tipo nacionalista implementado pela chegada do líder popular Thaksin Shinawatra ao poder em 2001. Derrubado por um golpe militar e exilado em 2006, Thaksin logrou vencer as eleições convocadas em 2011 levando à frente do Partido Pheu Thai sua irmã, Yingluck Shinawatra, que seria a primeira-ministra da Tailândia até 2014, quando o Pheu Thai – ou Partido para Tailandeses, numa tradução literal – seria mais uma vez deposto do poder por um novo golpe militar de força redobrada, com forte apoio do imperialismo.
Grande parte do roteiro do golpe corresponde àqueles aplicados recentemente na América Latina: acusações de corrupção, prisões políticas, eleições fraudadas. Dessa vez, porém, os militares lograram promulgar uma nova constituição em 2017, segundo a qual a íntegra dos senadores são indicados pelos militares. São 250 parlamentares à frente da chamada Câmara Alta do Parlamento. Por se tratar de um sistema bicameral, como o brasileiro, os demais 500 parlamentares que compõem a Câmara dos Deputados poderão ter todas as suas medidas vetadas pelos senadores biônicos.
Embora o Pheu Thai ainda participe das eleições, seus candidatos estão proibidos de usar os nomes ou imagens dos irmãos Shinawatra. Além disso, a constituição da ditadura estabeleceu um teto de cargos para o Partido. Por outro lado, novos partidos e candidaturas de direita – encarregados de conferir um ar plural à ditadura –, como o ridículo bilionário Thanathorn Juangroongruangkit e seu Partido do Novo Futuro. É evidente, em todo caso, que todo o processo eleitoral é completamente fraudulento, destinado a dar a vitória ao general Prayuth Chan-ocha – o golpista à frente do Partido do Estado Popular.
É a esse festival de barbaridades, a essa ditadura militar escancaradamente a serviço do imperialismo, que a BBC candidamente busca nomear de Democracia híbrida, pela qual advoga pedindo ao leitor um voto de credibilidade. É por meio desse descaramento, milhares de vezes repetido em todos os níveis, que a burguesia logra determinar as ideias dominantes hoje.
Embora seja possível, como aqui se faz, denunciar as manipulações da imprensa burguesa, é impossível suplantá-las somente com campanhas de tipo publicitário. A classe trabalhadora só logra elevar sua consciência por meio da ação militante prática, da organização popular e de sua mobilização na luta por seus direitos.