O DCE “Luís Travassos”, da Universidade Federal de Santa Catarina resolveu marcar para hoje, às 19 horas, uma Aula Magna com a seguinte temática “Como estudar na pandemia?”.
Se houvesse um governo minimamente preocupado em atender as necessidades da população, promovendo a implantação de uma rede pública de internet banda larga. Se houvesse um governo preocupado em evitar a disseminação do coronavírus. Se houvesse um governo que ao menos prometesse imunizar a população com uma ampla campanha de vacinação. Seria possível, nesse mundo hipotético, até entender que uma organização estudantil se preocupasse em discutir formas de continuar os estudos em uma situação adversa, que nesse mundo imaginário estaria já resolvida, ou perto da resolução.
No entanto, tudo isso não passa de muita imaginação. Na realidade, nem mesmo os governantes de partidos de esquerda conseguiram realizar nada para conter o avanço da pandemia, disponibilizar as vacinas para imunizar a população ou garantir uma estrutura mínima que possibilitasse o ensino remoto. Ao abrir as atividades de 2021 com uma proposta de superação individualizada dos problemas educacionais emergidos durante a pandemia, os dirigentes estudantis demonstram sua alienação da realidade e apoiam discretamente a manutenção de um sistema de ensino fracassado, que a burguesia insiste em fingir que é uma beleza.
Como em todos os casos onde a esquerda pequeno burguesa é obrigada a se posicionar, revela-se a posição ambígua desta camada social, também conhecida como classe média. Influenciados e orientados pela ideologia burguesa, os estudantes universitários acabam promovendo um evento que reforça a necessidade imediata de retorno as aulas, adoeça quem adoecer, morra quem morrer.
É claro que a aprendizagem, especialmente nos anos iniciais, mas também no caso de uma universidade, necessita de um acompanhamento presencial da parte dos educadores. No entanto, os problemas de ensino não serão resolvidos com técnicas de organização dos estudos, ou com sugestões de especialistas no desenvolvimento cognitivo, muito menos durante a pandemia. É preciso entender que toda a imprensa burguesa e os governantes, funcionários desta mesma Burguesia, estão se mobilizando para convencer os pais que a volta às aulas é uma necessidade essencial da população e não pode ser deixada para depois, mesmo que milhares de professores e estudantes corram o risco de espalhar ainda mais o vírus, o que causaria o colapso total do sistema de saúde, como foi em Manaus.
Não foi a Pandemia que atrapalhou o processo de aprendizado dos estudantes. Vivemos em um país onde os governantes, nunca consideraram o Ensino uma atividade “essencial”, muito menos um direito fundamental de toda a população. Tanto professores quanto estudantes testemunham um sistema educacional intrinsecamente autoritário e ineficiente desde muito antes da suspensão das aulas por conta da pandemia. É um sistema que reproduz as desigualdades sociais e a opressão de uma classe privilegiada sobre as outras. É apenas isto que esse modelo escolarizado pode oferecer. O individualismo e a competição, em vez de um aprendizado coletivo e de colaboração, que realmente faria sentido para toda a classe trabalhadora.
Desta forma, a posição de uma organização de estudantes criar um evento para falar sobre como “como estudar na pandemia” é um aspecto da política de frente ampla, mesmo que isto seja discreto ou disfarçado de propostas progressistas de ensino, ou seja, uma forma de se adaptar a política genocida dos golpistas, que querem a volta às aulas a qualquer custo. Contra essa capitulação, os estudantes devem lutar pela vacina e auxílio emergencial para todos e que as aulas só voltem com o fim da pandemia e com a vacina.