Os problemas com o acesso à água são recorrentes na vida de muitos trabalhadores em todo o mundo, e isso se dá por diversos fatores, entre eles o mau gerenciamento do recurso, principalmente com as privatizações do saneamento básico, como está sendo proposto e já aprovado pelo Senado Federal no Projeto de Lei do saneamento básico (PL4162/19, do Poder Executivo).
As privatizações, geralmente propostas por governos neoliberais e direitistas sempre chegam como a salvação de algum serviço público que está completamente sucateado ou desorganizado, inclusive propositalmente, para que seja entregue as mãos dos grandes capitalistas enquanto a população recebe um serviço caro e com menor qualidade, isso quando recebe, pois é recorrente as reclamações da falta do serviço, principalmente no que diz respeito ao saneamento básico.
O Chile é um grande exemplo das consequencias drásticas a população que uma privatização do serviço de saneamento básico pode trazer aos trabalhadores. Durante a dura e sanguinária ditadura de Augusto Pinochet (1976-1990) foi criado o Código de Águas, em que o bem natural passou a ser tratado como propriedade e mercadoria, podendo ser comprado, vendido, e até mesmo herdado. Isso levou com que as águas chilenas passassem a ser artigo da burguesia e das grandes empresas e monopólios enquanto os trabalhadores estão até hoje enfrentando diversos problemas para conseguirem acesso a um bem necessário a sobrevivência.
Hoje, a água que deveria ser de todos os chilenos está nas mãos dos grandes capitalistas. No sul do país é controlada pelas hidrelétricas; no centro, por grandes empresas agrícolas e ao norte, pelas mineradoras, estas que em sua maioria são grandes transnacionais e possuem quase 100% do direito sobre as águas subterrâneas do país.
Enquanto os capitalistas utilizam da água para continuarem lucrando a custa dos trabalhadores, as populações sofrem com o racionamento e a falta de água recorrente, onde por muitas vezes precisam escolher entre lavar roupa ou fazer comida, porque a escassez é grande. Na região de Valparaíso, onde há grande produção agrícola, por exemplo, as grandes empresas extraem a água diretamente das nascentes dos rios, o deixa os trabalhadores sem acesso á água ou encontram rios secos, como é o caso do rio Lígua. Na região, as casas precisam ser abastecidas por caminhões pipa do governo, onde os moradores têm direito a 50 litros de água por dia, o que equivale a um banho de 5 minutos. Além disso, muitas vezes as populações precisam comprar água, o que não é barato, onde em média cada 1000 litros de água custam U$14 sendo que a maioria da população ganha menos do que U$23 por dia.
Além dos problemas básicos ao acesso à água, em algumas regiões as populações também perderam suas rendas, pois não conseguem mais trabalhar com agricultura ou pecuária devido a falta de água. Segundo o movimento Modatima (Movimento de Defesa da Água, da Terra e do Meio Ambiente), o Estado chileno gasta em média por ano 92.000 milhões de pesos (R$500 mil) com os caminhões pipa para atender a população, ainda de forma deficitária, dinheiro que poderia ser melhor gasto em instalações ou no tratamento de água e esgoto se o serviço e a própria água fossem estatais. O problema da água no Chile mostra claramente como ocorre a luta de classes quando um bem é posto como mercadoria, onde a classe operária sofre com a falta de acesso enquanto os grandes capitalistas fazem o que bem entendem com os recursos garantindo seus lucros sem nenhuma preocupação com racionamento ou escassez.
Colocar um serviço essencial a sobrevivência como uma mercadoria para a negociação entre os grandes capitalistas é um verdadeiro ataque a população trabalhadora. Com as privatizações os trabalhadores estão sujeitos a uma cobrança maior de tarifas, falta de abastecimento, além de estarem mais vulneráveis a problemas envolvendo a falta de água tratada e de esgoto, pois os investimentos são menores quando geridos pelas empresas privadas. Além disso, várias empresas de outros segmentos podem se apossar de rios e nascentes utilizando-os para benefício próprio. Todas essas constatações não são coisas tiradas da nossa cabeça, ou inventadas, são apenas reflexões acerca daquilo que já tivemos como exemplo tanto no Chile como aqui mesmo no Brasil, na cidade de Manaus (AM).
É preciso impedir que a privatização da água no Brasil seja levada adiante, os trabalhadores não podem se sujeitar a ter suas condições de vidas ainda mais degradadas em função dos interesses dos grandes capitalistas, e para isso é preciso se mobilizar e derrubar o governo Bolsonaro e todos aqueles que fazem parte do conjunto de inimigos da população, que colocam os interesses capitalistas acima da vida das pessoas.