As frases acima são de um assumido deputado do Centrão, que apoiou o golpe de Estado que derrubou a presidenta Dilma Rousseff, se declarou da base apoio ao presidente golpista Michel Temer, votou pela reforma trabalhista, apoiou e apoia a prisão ilegal da maior liderança popular do País, o ex-presidente Lula, foi pronunciada ontem, não em Brasília, mas nos bastidores do ato “unificado” de 1º de Maio, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo.
Trata-se do fundador e ex-presidente Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o “Paulinho da Força” (SDS-SP), mostrando claramente que no ato não havia unidade sequer em torno da luta contra o roubo de bilhões de reais que o governo ilegítimo de Bolsonaro quer tirar de dezenas de milhões de trabalhadores nos próximos anos, com a famigerada reforma da Previdência, para entregar aos banqueiros e outros tubarões capitalistas.
Não ficou por aí. Houve mais demonstrações explícitas de trairagem e de falta de qualquer sintonia com o sentimento expresso da maioria da classe trabalhadora brasileira.
Não satisfeitos com a unidade com golpistas escancarados, agentes da FIESP e do imperialismo no movimento sindical, uma liderança política “de esquerda” lamentou a falta de outros abutres.
A reclamação sobre a ausência do ex-candidato presidencial do PDT, que não fez campanha contra Bolsonaro no segundo turno, que comemorou a prisão de Lula e que também já declarou apoio (“parcial”) à reforma da Previdência, foi apresentada em uma entrevista, pelo ex-candidato presidencial do Psol, Guilherme Boulos. Deixando claro que a política de um setores de direita no meio da esquerda vai no sentido de fazer avançar a unidade expressa no Ato, em direção a todo tipo de golpista, traidor e defensor da “reforma” da Previdência, de outros ataques e do próprio governo Bolsonaro.
Com esta política e com a influência reacionária de setores pelegos que, há anos, buscam fazer do 1º de Maio um dia de festa (mesmo que o trabalhador não tenha nada a comemorar), de mal gosto, com artistas de má qualidade, alguns deles apoiadores de Bolsonaro, “cantando” em playback músicas que nada tem a ver com a luta da classe operária e do povo brasileiro (bem diferente de companheiros como a falecida Beth Carvalho ou Leci Brandão e o grupo Mistura Popular, que também se apresentaram no Ato). O 1º de Maio foi um dia de extremas contradições.
Ao lado dessas e outras demonstrações explicitas de traição, covardia política e capitulação de setores da esquerda burguesa e pequeno-burguesa destacaram-se o espírito combativo de milhares de militantes e ativistas que foram aos atos não para se deixar ludibriar pelos defensores da reforma e amigos do Ciro-abutre, mas para gritar pela liberdade de Lula, apoiar a mobilização necessária para derrotar o roubo da Previdência, por meio da greve geral, e protestar contra o governo Bolsonaro (“Ei Bolsonaro vai tomar no c*”, entoaram milhares no Anhangabaú, depois da intervenção do companheiro Antônio Carlos Silva, dirigente nacional do PCO).
Impulsionados pela tendência de luta, o presidente da CUT apresentou como data unificada para uma paralisação nacional o dia 14 de junho, com amplo apoio dos presentes.
Não faltaram discursos de todos os lados apoiando essa medida. É evidente que para levar adiante a luta contra as reformas, o governo Bolsonaro de conjunto e pela liberdade de Lula de forma consequente e eficaz é preciso passar por cima da política dos que querem apenas fazer figuração enquanto negociam por “30 moedas”, como Judas, ou perspectivas ilusórias nas próximas eleições, todo tipo de traição.
Uma das coisas mais evidentes no ato de São Paulo, o maior do País e principal, foi o abandono por 90% dos dirigentes de qualquer menção à prisão do ex-presidente Lula, que – ao contrário do ano passado – não teve sua liberdade inscrita como um das reivindicações centrais do ato.
O motivo era claro, a defesa da liberdade Lula, ou de qualquer medida real contra o golpe, não “unifica” (como disse o deputado federal do Psol, Marcelo Freixo) o movimento que em seu interior tinha deputados do centrão (como o deputado Paulinho), apoiadores da reforma, viúvas de Ciro Gomes, defensores explícitos da prisão de Lula (como o PSTU e o SDS) etc.
No Brasil e no mundo, o 1º de Maio foi de luta. Mais também de muita luta interna.
A soma entre fatores distintos, dentre os quais se incluam termos negativos junto a termos positivos, nunca dá um resultado maior do que o que seria possível obter com a soma apenas de parcelas positivas. A revolta contra a “reforma”da Previdência só aumenta; cresce também a vontade popular de libertar Lula e colocar para fora Bolsonaro e todos os golpistas. Para ser vitorioso, o movimento operário precisa superar a política de confusão que a maioria de suas direções lhe apresenta.