Moradores do Morro Santa Marta, no Rio de Janeiro, que já sofrem há tempos com falta de água, luz e saneamento básico, decidiram agir por conta própria para não ganharem mais um martírio: a Covid-19, e que é agravada pela falta dos três direitos básicos citados.
Quem iniciou essa ação foi o guia local Thiago Firmino. Ele mesmo passou a se informar a respeito da doença. Nas palavras dele: “Eu me lembrei das imagens dos caras lá na China, todos de branco, pareciam os Caça-Fantasmas. A gente pensa: ‘pô, na China é tudo avançado’, mas não, aquelas coisas lá não eram de outro mundo. O pulverizador é igual àqueles agrícolas, as roupas são as que a gente usa pra pintar carro, máscara e luvas a gente tem. Não é nada mirabolante. Dava pra gente fazer.” Ele chegou então na conta de um valor mínimo de R$ 3,5 mil para comprar dois aparelhos de pulverização, roupas de proteção e quaternário de amônia, que é usado para a sanitização. Pensou inicialmente em fazer uma “vaquinha” virtual, mas demoraria demais. Pediu então ajuda para uns amigos do hip-hop, três artistas internacionais e que conhecem a realidade do Morro Santa Marta: Gilli, Mass e Lucas Secon. Em dez minutos tinha conseguido o dinheiro.
Com a ajuda de um infectologista e de um químico para estimar a quantidade de material a ser utilizada, os dez voluntários que atuam no Morro Santa Marta fazem há duas semanas a sanitização completa das vias, duas vezes por semana, das 11h até as 18h.
Os moradores das periferias no Brasil nunca foram respeitados pelo Estado em seus direitos básicos, e o relato do morador do Morro Santa Marta não traz novidade alguma. Não seria então diferente em relação ao combate à pandemia do coronavírus. É notório que nos bairros mais ricos das capitais brasileiras está a maior oferta de serviços públicos básicos: água tratada, sistema de esgotos, energia elétrica, áreas verdes, parques, escolas e unidades de saúde. E é justamente onde a população mais necessita desses serviços, onde as crianças não estudam em escolas particulares, onde a imensa maioria das pessoas só tem acesso ao SUS, que esses serviços são proporcionalmente menos disponíveis. A falta de água é constante e muitas vezes não existe sistema algum de esgoto. São populações que vivem expostas constantemente aos germes e doenças que não deveriam mais ser um problema no século XXI.
Os moradores do Morro Santa Marta não têm ilusões de que o Estado burguês vá atendê-los e passaram a agir por conta própria, e com uma rapidez maior que os governadores e prefeitos inimigos do povo, como Witzel, Doria, Crivella e Covas. O impedimento inicial para o projeto de sanitização era o dinheiro, cujo valor para a maioria das prefeituras deste país não é alto. Seria, então, extremamente fácil para o Estado agir como se deve. As ações contra a pandemia nas periferias das capitais já poderiam ter sido tomadas há muito mais tempo, mas a causa dessa omissão é sempre a mesma: os governos burgueses não querem fazer isso, não é do interesse deles salvar os trabalhadores, mas apenas os capitalistas.
Os conselhos populares que estão começando a se formar pelo País devem lutar para arrancar do Estado os direitos da população que tem sido desrespeitados por décadas, principalmente agora, em meio a essa pandemia. A omissão criminosa do Estado não pode ser esquecida nem perdoada, e a população das periferias deve se organizar contra essa situação, denunciando esse crime e exigindo seus direitos, o que acabará colocando em evidência a questão fundamental de um governo operário e camponês como uma necessidade cada vez maior diante da ineficiência desses governos burgueses.