Na edição de ontem deste diário, publicada no dia 23 de abril, elegemos a seguinte declaração, dada pelo demógrafo Tim Riffe, como a frase do dia:
Qualquer número relatado em um determinado dia será uma subestimação grosseira.
A constatação, válida, de maneira geral, para as estatísticas de qualquer país atingido pelo novo coronavírus, é, sobretudo, um lema para a situação brasileira: ninguém tem a mais remota ideia da quantidade real de afetados pela pandemia. Isso, por sua vez, é resultado direto de uma política muito bem definida por parte de toda a burguesia de conjunto: ao povo, até mesmo o direito de fazer exames está sendo negado.
O que parece absurdo é a mais escancarada realidade. Os pretensiosamente cientistas, verdadeiros charlatões de primeira linha, que estão hoje, no Ministério da Saúde do governo Bolsonaro, saem a público diariamente para contar dezenas de mortes registradas em um dia, milhares de casos registrados em uma semana, quando, na verdade, ocultam a todos qual é o critério para que alguém seja, de fato, testado para confirmar seu diagnóstico.
Sem testes, qualquer política anunciada para o combate à pandemia se converte em pura demagogia. E demagogia, entendam, não simplesmente como os típicos golpes eleitorais para que o vigarista-mor vença os vigaristas amadores, mas sim uma cobertura para um massacre sem precedentes da população; Ora, se não há testes, não se sabe quantas pessoas estão doentes, nem quantas estão morrendo; quantos hospitais precisam ser construídos, quantos equipamentos médicos precisam ser comprados, quantos remédios precisam ser fabricados, quais pessoas precisam ser isoladas, quais locais de trabalho precisam ser fechados… Põe-se, como critério para a ação do governo, não as demandas mais urgentes da população, mas sim os interesses da burguesia para manter seus negócios em ordem.
Se até hoje, o governo Bolsonaro optou por abandonar totalmente a população em relação aos testes, a burguesia vem revelando, por meio de sua imprensa. que a situação não deverá mudar em absolutamente nada. O novo ministro da saúde Nelson Teich, por meio da típica enrolação tecnocrata do neoliberalismo, em sua primeira coletiva de imprensa, já abriu o jogo e deixou claro que o teste em massa não será prioridade em sua gestão:
Na verdade, o que importa não é você testar. O que importa é como é que você conduz de acordo com o que você tem a partir do teste.
Outro caso que reflete a política da burguesia de negar testes é o do governador de São Paulo, o fascista João Doria. O mais populoso estado do país estaria, segundo a Folha de S. Paulo, fazendo o esforço de realizar 8 mil testes por dia. Neste ritmo, demoraria um pouco mais de 4 anos para que todos os paulistas fossem testados…
Ao todo, o Brasil teria, até o momento, testado 2,5 milhões de pessoas, contrariando a promessa de testar 4 milhões de pessoas. Da mesma forma, se forem testadas 2,5 milhões de pessoas a cada mês, o país demorará mais de 7 anos para testar toda a sua população. Considerando, obviamente, que quem for testado em um mês, poderá, no mês seguinte, ser infectado.
Os dados mostram, de maneira indiscutível, que o interesse do governo Bolsonaro é fingir que não há coronavírus: quanto menos teste, menos números oficiais de mortes e, portanto, menos o Estado será forçado a investir na assistência básica da população em geral. Uma política que, para encher os cofres dos capitalistas, transformará o país em um enorme cemitério.