Segundo documentos internos do Ministério da Saúde divulgados pelo Estadão, o governo federal mantém em estoque 9,85 milhões de testes (“Ministério da Saúde tem 9,8 milhões de testes parados por falta de insumos”, 30/7). A reportagem do jornal aponta ainda que o número é quase o dobro do total enviado pelo ministério aos estados e municípios, 5 milhões de testes desde que o estado emergência foi decretado pelo governo, há quase 6 meses. A reportagem foi divulgada no dia em que o país ultrapassou a barreira de 90 mil mortos pela pandemia de coronavírus e um dia após o registro de novo recorde no número de mortes diárias: 1.595 no último dia 29, superando o recorde estabelecido em 4 de junho, com 1.492 mortes no intervalo de 24 horas. O dia 30 viu ainda outra barreira superada em relação aos contágios, que ultrapassaram os 2,5 milhões de casos confirmados. E aqui, cumpre destacar que os números são apenas o que sobrou de uma série de manipulações para reduzi-los ao mínimo possível.
Todo um conjunto de explicações é apresentada pela reportagem do jornal para o fato do MS reter os testes, desde a falta de insumos para armazenagem e uso à desarticulação entre União, estados e municípios mas, obviamente, não passam de desculpas. A única declaração sincera (embora grotesca) que explica este tipo de absurdo saiu da boca do próprio Bolsonaro, não agora mas em abril, no famoso “e daí?” proferido pelo presidente ilegítimo ao comentar a deterioração do quadro sanitário e do número de mortes de então.
Sem usar estas palavras mas mantendo o espírito da política do regime golpista, o ministro interino da Saúde, Eduardo Pazuello, declarou em entrevista à Veja (17/7) que “criaram a ideia de que tem de testar para dizer que é coronavírus. Não tem de testar”.
Existe, como se pode ver pelas declarações aberrantes e pelos resultados concretos da evolução da crise sanitária no Brasil, uma indiferença crônica pela vida da esmagadora maioria da população pobre e explorada, que se manifesta em diversos outros ramos da política nacional mas sobretudo na questão do coronavírus, ganha contornos monstruosos pelo escárnio, por indicarem um genocídio deliberado contra a classe trabalhadora, que mantém quase 10 milhões de exames retidos enquanto a pandemia se alastra de maneira assustadoramente descontrolada, levando milhões a adoecerem e causando a morte de dezenas de milhares.
A esquerda brasileira, os partidos, as organizações de luta dos trabalhadores, estudantes e demais representantes das vanguardas populares não podem mais admitir a permanência de Bolsonaro no poder, sob risco de se tornarem cúmplices, pela omissão, do extermínio em massa da população pobre do País. As organizações cuja existência se deve ao apoio das massas, devem mobilizar sua militância para agitação em torno do Fora Bolsonaro, a única forma de impedir uma escalada ainda maior deste morticínio em escala industrial dos trabalhadores brasileiros. Sem vacilações e sem acordos de nenhuma natureza com o regime assassino do povo.