Bolsonaro foi um candidato improvisado pela burguesia diante do colapso dos partidos de direita tradicionais e o seu governo, desde o início, apresentou uma crise na qual se manifestam duas alas. De um lado, uma “ala ideológica”, formada por seguidores de Olavo de Carvalho; de outro, generais alinhados com a política tradicional do imperialismo. As duas têm se digladiado publicamente. A briga, que aparenta ser uma comédia, tem alicerces reais muito profundos.
No início de maio desse ano, segundo matéria do Intercept, Bolsonaro trocou o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência, a Abin. No lugar de Janér Tesch Hosken Alvarenga, que fez parte do Serviço Nacional de Informações da ditadura, entrou Alexandre Ramagem Rodrigues, delegado da Polícia Federal que coordenou a segurança pessoal de Bolsonaro após o suposto atentado em Juiz de Fora (MG) durante a campanha eleitoral.
Bolsonaro, assim, coloca um segurança pessoal para evitar que a cúpula militar coordene a espionagem estatal. Segundo a mesma matéria, a Abin se encontra até hoje subordinada ao Gabinete de Segurança Institucional, o antigo Gabinete Militar, e seus membros estariam insatisfeitos com a nomeação do delegado da PF. O presidente acreditaria, no entanto, que precisaria de um homem da sua confiança para protegê-lo de uma eventual espionagem dos militares.
Bolsonaro estaria se defrontando com os generais para evitar investigações contra seus familiares que poderiam, eventualmente, colocar em risco o seu mandato, por meio de uma conspiração dessa outra ala do governo. O comandante do GSI, no entanto, ainda é o general Augusto Heleno, que por sua vez, embora seja um general, não apresentou-se em conflito com a ala bolsonarista.
Isso não seria suficiente para impedir a espionagem, porque os militares contam também com os três serviços secretos militares nas suas mãos: o Centro de Inteligência da Marinha, o Centro de Inteligência do Exército e o Centro de Inteligência da Aeronáutica.
Uma parte significativa da base social do bolsonarismo vem de elementos das camadas de baixa patente das Forças Armadas, que acreditam que Bolsonaro defenda seus interesses. Ao mesmo tempo que se identificam com Bolsonaro, essa base repudia os generais de quatro estrelas do governo, que são representantes diretos da burocracia do Exército.
O governo está desmoralizado com a população e parte da burguesia desconfia de que Bolsonaro seja capaz de levar adiante o programa do golpe de Estado. O que garante a permanência de Bolsonaro é essa base e a tarefa de aprovar, o quanto antes, a Reforma da Previdência. Diante disso, a crise precisaria ser aproveitada pelos trabalhadores organizados para impor uma mobilização que derrubasse o governo.