Além da pandemia, uma senhora tragédia que se abateu sobre todos nós, uma outra, desde dezembro, também aterroriza o trabalhador: o corte do auxílio emergencial. Se já era difícil viver com ele, sem ele é bem pior.
Para se ter uma ideia da covardia que isso representa, basta lembrar, com base no Dieese que estimou que o salário mínimo necessário para o brasileiro dar conta das despesas essenciais, deveria ser equivalente a R$ 5.304,90, o que corresponde a 5,08 vezes o mínimo vigente, de R$ 1.045,00, e 8,84 vezes o auxílio emergencial de R$600,00.Veja você, o quanto o auxílio emergencial era insuficiente para o sustento da vida de uma família, e é claro, vai ficar ainda pior sem ele.
Não obstante isso, o fato é que, mesmo assim, este auxílio alcançou uma grande parcela da população: foram quase 68 milhões de pessoas, sendo ele o que representou o fio tênue entre a pobreza e a miséria, e que, estancado, esse o número de pessoas passou a viver abaixo da linha da pobreza. São trabalhadores sem condições de honrar com seus compromissos, pagar as contas, fazer a feira, e encher a geladeira.
Nesse quadro dramático da classe trabalhadora brasileira, o auxílio emergencial foi uma esmola oferecida pelo governo, principalmente para o trabalhador na informalidade, mas que agora é retirado por Bolsonaro, o que chamou a atenção da burguesia para a situação acendendo um sinal de alerta por se tratar de um número muito alto de trabalhadores que foram privados dele.
o Banco Mundial calcula que, embora insuficiente como vimos, o auxílio emergencial levados aos 7 milhões, retira-os da pobreza, onde cairiam se não o recebesse, e ilude o restante que aguarda com esperanças, a sua chance de recebê-lo também, o que tem sido um efeito importante para segurar a revolta de todo o conjunto de desempregados e informais.
Embora seja essa a real motivação da burguesia pela análise desse problema, ela justifica de outra forma demonstrando um falso interesse em resolver o problema do desemprego e da pobreza:
“Se suspendermos o auxílio emergencial enquanto o impacto negativo da crise persistir, muitas pessoas cairão na pobreza no mês seguinte”, afirma Menezes.
Até agora, de acordo com Christoph Lakner, economista do Banco Mundial, 90 países e territórios adotaram novas medidas ou adaptaram políticas existentes em consequência da Covid-19, atingindo cerca de 12% da população global.
Segundo ele, quanto mais eficazes essas respostas na identificação das pessoas mais necessitadas, menor será o aumento da pobreza em decorrência do coronavírus.
Cálculos de Lakner e outros economistas da instituição mostram que cada 1% de redução na desigualdade de renda diminui em 20% o impacto da pandemia sobre a pobreza.
Ele ressalta que, em países como o Brasil, onde a população informal mais sensível às características da recessão atual é muito grande, medidas com esse foco são ainda mais importantes. “As transferências terão um papel crítico na pandemia”, diz o economista.
A burguesia tem claro que o impacto das decisões do que se faz no Brasil pode afetar em muito todo o continente. E todas essas considerações são necessárias para assegurar que a repercussão com a suspensão do auxílio emergencial, não traga nenhum prejuízo a uma situação que já é instável demais.
Estudiosos que se sensibilizaram com a situação, esquentaram o debate sobre uma possível extensão do benefício. O impacto fiscal foi a preocupação dos economistas, argumentando que o aumento do gasto público poderia agravar a crise econômica, gerando mais desemprego e mais inflação.
O Ministério da Economia se calou, e o Ministério da Cidadania informou ter incluído, dos 68 milhões, mais 1,2 milhão de pessoas no Bolsa Família este ano, somando 14,2 milhões de famílias beneficiadas, com um valor médio de R$190,57. Chega a ser risível, cômico se não fosse trágico.
Como já deu para perceber, a burguesia teme que o pior aconteça, reconhecendo que empurrar essas dezenas de milhões para a pobreza e a miséria foi, sem dúvida alguma, uma decisão arriscada. Os capitalistas sabem que sem resolver a crise, isso terá um efeito que atingirá, um grupo cada vez maior, o que empurra milhões de pessoas para uma mobilização e revolta de grandes proporções.