Há cerca de 14 anos, o economista burguês Nouriel Roubini alertava para o risco do superendividamento da economia, que levaria a uma crise devastadora. Chamado de “Dr.Doom” (“Dr. Destruição”) na época pelo teor das declarações, a crise financeira de 2008 confirmaria as previsões do professor da Universidade de Nova Iorque. O caso ganha um especial destaque por que Roubini voltou aos holofotes do noticiário econômico vaticinando que a crise atual seria não apenas pior do que 2008 mas apresentava forte tendência a ser pior do que a Grande Depressão de 1929, devido à combinação do expressivo endividamento ocorrido sem a contrapartida de um crescimento real da economia somado à resposta desastrada dos governos, que a exemplo de 2008, vinham tratando o acentuado declínio da atividade econômica como uma questão fiscal, ou seja, algo que poderia ser revertido equilibrando o caixa das grandes empresas. Um grave equívoco segundo o economista.
É uma situação que deve ser acompanhada com atenção por que os efeitos da política desastrada começam a aparecer, com especial destaque para o anúncio do crescimento da dívida pública americana, que saiu de US$23,5 trilhões em março (curiosamente, mês de publicação do ensaio do “A Greater Depression” do economista) para US$26 trilhões segundo o balanço atualizado do Tesouro americano. Um crescimento de 10,63% em um período onde as estimativas mais conservadoras apontam que a economia deve retrair mais de 40%. O risco desta política é a forte tendência a produzir uma crise inflacionária justamente quando o desemprego atinge recordes só superados pelo auge da Grande Depressão do século 20. Mas não apenas isto.
Longe de ser solucionada, fica claro que a crise de 2008 foi adiada por meio de “gambiarras“. Enquanto o PIB americano saiu de US$14,45 trilhões em 2008 para US$21,43 trilhões em 2019, um crescimento de 48,30%, a dívida pública saiu de US$7,4 trilhões para os atuais US$26 trilhões, mais de 251%, portanto. Mais do que isto, a renda anual média das famílias, US$63.688 em 2019 contra $50.221 em 2009, tiveram um crescimento de 78,85% contra uma inflação de 19,2%, ou seja, 59,65% de ganho real. No mesmo intervalo de tempo, o índice Dow Jones aponta um crescimento no volume de operações da bolsa de Nova Iorque da ordem de 171,59%.
Ilustrando com mais nitidez o tamanho do problema, em 2008 o endividamento impactava 51,21% do PIB americano. Considerando a retração estimada de 42% para o segundo trimestre e a registrada de 5% no primeiro, ante um PIB de US$21,43 trilhões em 2019, temos que o endividamento afeta hoje cerca de 101,55%, consquentemente, um crescimento superior a 98% na proporção dívida x PIB, um indicativo claro de que não se trata simplesmente de uma dívida galopante mas de uma capacidade expressivamente vez menor da principal economia do mundo arcar com este custo, que finalmente, não se deve a erros mas a interesses.
As nações imperialistas tradicionalmente tem à sua disposição um expediente para solucionar este problema, que as vezes varia na forma mas nunca no conteúdo: a rapina dos países atrasados. Lançados sob o eufemismo de “responsabilidade fiscal”, a polícita neoliberal tem a função de prover os países centrais do capitalismo com a riqueza do resto da humanidade, equilibrando assim o caixa desses países, mantendo a inflação baixa sem provocar uma convulsão social. Contudo, as rebeliões nos países atrasados tornam a operação cada vez mais complexa sob a ótica do custo político. No próprio país, a situação é muito conturbada.
Resta saber, até quando a burguesia norte-americana conseguirá levar adiante sua política mas é certo que ela se desenvolve em um sentido que torna até mesmo as previsões do Roubini, projeções conservadoras. O endividamento só tende a crescer, como consquência natural do fundo político da crise econômica.