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Marchando para a cova

Com crise, Rio de Janeiro não terá espaço para sepultar os corpos

Mesmo declarando tratar-se apenas de uma sondagem para mera "hipótese" e seguir instigando o retorno à "normalidade", Estado demonstra que já conta com a morte em massa

Há 2 dias, o Rio de Janeiro registrava 41 mortes por COVID-19 em 24 horas. Os dados oficiais apontavam um total de pouco mais de 3 mil infectados. Hoje, a oficialidade registrou 36 óbitos, um decréscimo no número, apesar de uma elevação nos casos de infecção, que já atinge quase 4 mil. O Brasil segue testando apenas 296 pessoas a cada 1 milhão de habitantes, enquanto os EUA, país que mais sofre com infectados e óbitos pelo vírus (já tendo atingido 640 mil infectados e mais de 30 mil mortos) testa mais de 7 mil pessoas a cada 1 milhão de habitantes.

No estado do Rio, diversas prefeituras receberam um ofício do Exército Brasileiro exigindo um levantamento sobre quantidade de cemitérios, disponibilidade de sepulturas e capacidade de enterros diários. Conforme a fala do Comando Militar do Leste, trata-se apenas de “uma coleta de dados” e que o CML “planeja sua atuação com base no levantamento de cenários hipotéticos visando a mitigar os efeitos nocivos da pandemia junto à sociedade.” Se fôssemos nos ater às exigências e projetos do governo atual – o desejo de retomada da normalidade produtiva, de consumo e de uma economia que “estava voando”, segundo a fala do fascista na presidência – e ao caminhar dos registros do vírus, que parece estar infectando poucos e matando ainda menos, esse levantamento seria apenas algo da ordem “protocolar” e “cotidiana” para meras “hipóteses”. Apenas uma “precaução” para um caso que “não parece ser o nosso”. Não é que os dados indicam.

O plano é explícito: enviar as massas o mais breve possível ao trabalho, e a todo vapor (aqui sequer mencionando as que nem mesmo foram protegidas de terem de trabalhar em plena pandemia – os informais, os “braços indispensáveis”, etc; ou seja, os mais pobres) e preparar as covas. A “falta de caixa” do capital não parece capaz de cobrir as valas comuns que serão necessárias sem os próprios braços que as cavarão, obviamente. E, de qualquer forma, esse governo não foi eleito para tal, e não o teria sido, com todo o apoio da alta burguesia e do capital imperialista, que deseja exatamente isso: um plano neoliberal agressivo, que salva e fortalece as economias das grandes empresas a qualquer custo, mesmo (e principalmente) ao custo da vida dos trabalhadores. Uma pandemia como essa é, na verdade, uma forma até eficaz de mascarar o saque assassino, afinal: quem sentará no banco do réu do latrocínio será o vírus, e não quem planejou o assalto. Aliás, quanto melhor ambos estiverem disfarçados, melhor – à diferença de que um é um verdadeiro criminoso, o outro, um álibi da natureza. Para uma massa de trabalhadores que morrerá às escuras, sem serem testados, ou tratados, ou, como para os que talvez sejam contabilizados com “um dar de ombros” de um número impreciso (pneumonia? Insuficiência respiratória? Atendimento tardio? Leitos insuficientes?), na fila dos hospitais públicos – já que dos privados  passarão longe – os números, ao menos das covas, já estão sendo muito bem calculados, obrigado.

Contudo, seguimos falando apenas de “dados oficiais” e da “união contra o único inimigo”, mesmo com a impossibilidade de testar nossos habitantes para o vírus, evitando assim o mais comprovadamente eficaz dos primeiros e mais concretos passos para combater a epidemia: saber quantos são, a que ritmo, onde e o que precisam – além de um aspecto material que vai além apenas dos controle numérico real, a saber, custear o tratamento e o afastamento dos trabalhadores; mas… longe de nós querer exigir tamanho esforço dos maiores capitais do país e de fora! Se planejam a lápide, já calcularam, certamente, que salvar (ou sequer testar) o paciente será caro demais – permitir a seus operários que não trabalhem seria um custo muito maior (e, na visão ideológica, “absurdo”) do que permitir, por exemplo, que sejam cobrados impostos sobre a liquidez de seus lucros “fora do caixa”, nos mercados, claro, ou que fosse exigido que tais empresas pagassem seus custos com tal dinheiro. Aparentemente, o “único inimigo” não é o vírus. O inimigo é o capital e suas manobras, que esterçam uma ameaça natural contra os próprios braços que o sustenta, potencializando o poder assassino de ambos e calculando as covas – seria interessante supor também que seguirão contabilizando as lágrimas que terão de chorar nos veículos midiáticos.

Alguns se perguntam : “por que então o Estado não salva ambos os lados, o capital e o trabalhador? Assim todos entram em combate contra o ‘único inimigo’!”; Bem: o capital imperialista, que, por exemplo, acabou de dar um passo destruidor em direção a privatizar o sistema previdenciário brasileiro, vai combater com firmeza um elemento “tão triste, infelizmente lucrativo” que tirará de seu orçamento a necessidade de pagar a aposentadoria de um sem número de idosos (caso “infelizmente” sejam vítimas do vírus)? Este que está ávido pela privatização de cada serviço público brasileiro, incluindo o setor da saúde? Este mesmo Estado que deseja lançar o máximo de trabalhadores às ruas, às fábricas e aos negócios diante do eminente risco de contágio e morte, diretamente para os aglomerados e máquinas do capital para que este último não tenha de “perder caixa” ou pagar pelo prejuízo momentâneo com sua vasta “poupança” na bolsa de valores, com Banco Central de joelhos a lhe implorar clemência? Apostar as fichas em tal acordo é fazer o jogo de quem, no fim, já parece estar resignado a contabilizar as covas.

O estado do Rio, segundo mais afetado do país, já encontra seu sistema de saúde à beira do colapso, com 90% de seus leitos já ocupados. Seria importante verificar, já que falamos da relação Capital/Estado, alguns dados que nos esclareçam quem trabalha para quem – além de poder estimar quem está morrendo e quem não está, quem está sendo contabilizado e quem não está. De acordo os números que constam no CNESnet (Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde), do Ministério da Saúde, temos a seguinte relação de leitos de UTI existentes (aqui não falamos dos leitos disponíveis), por exemplo, na capital do estado do Rio: para adultos, dos leitos tipo I, II e III, há 499 no SUS e 1860 não-SUS (não públicos); quanto a leitos de UTI pediátrica do tipo I, II e III, há 114 no SUS e 192 não públicos; quanto a leitos de UTI que foram recentemente designados para o tratamento exclusivo do COVID-19, há 401 não públicos e zero disponíveis para o SUS. Em suma: 643 leitos de UTI existentes no SUS, 2452 leitos de UTI para pacientes pagantes (dentre estes, 401 leitos exclusivamente programados para o tratamento de COVID-19), uma proporção 4 vezes maior. O capital (no caso, instituições privadas de saúde) parece lucrar também com os doentes antes de irem para a cova.

Quanto à “sondagem” do Exército Brasileiro acerca de determinadas “hipóteses”, também devemos nos lembrar de alguns dados, e para tal, fiquemos na capital do Rio de Janeiro. Na cidade há 13 cemitérios públicos e 8 particulares. Desde 2014, a Rio Pax e o Grupo Reviver, por exemplo, vem abocanhando as licitações de consórcios para a administração e possibilidade de lucro sobre os mortos cariocas. O valor de outorga pago pela Rio Pax foi de R$13 milhões. O do Grupo Reviver, R$70 milhões. Mais um processo da “linha de montagem” da morte que engordará alguns bolsos, já que, com a atualidade de uma pandemia, “tudo pode virar uma oportunidade”, como diria uma mentalidade de caráter “investidor” e neoliberal. Retomando o recado já compreendido: nem o capital, nem o atual governo fascista, subserviente a este, deseja parar o vírus e evitar a catástrofe. O vírus demonstra ser, tanto para um quanto para o outro, mais uma “grande oportunidade” de ganhar de qualquer forma da população, fazendo contabilidade com cada aspecto da vida dos trabalhadores: seus braços, sua vulnerabilidade financeira e sanitária, seu adoecimento e, por fim, sua cova.

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