Por quê estou vendo anúncios no DCO?

1º de Maio com “sertanejas”: não, não é mera questão de “gosto”

Por ocasião da bola fora dada pela Central Única dos Trabalhadores ao anunciar como destaque para o ato de 1º de Maio no Anhangabaú a participação de duplas e cantoras que estão no auge da promoção feita pelos grandes monopólios da comunicação, teve início um debate sobre o problema da qualidade dessas músicas. A divulgação da CUT e das ditas “centrais sindicais” que farão o ato unificado causou estranheza e escândalo por parte da maioria dos militantes e ativistas, acostumados a outro tipo de atrações musicais nos atos políticos da esquerda.

Embora, de modo geral, a presença destas atrações não tenha agradado a maioria da esquerda, o fato trouxe à tona um debate importante sobre a própria questão da arte e da cultura.

Alguns poderiam objetar que a presença de atrações como as que estão previstas no ato em São Paulo poderia ser interpretada apenas por uma questão de “gosto”. Esse tipo de argumento está presente em boa parte das pessoas ao discutir os diferentes estilos musicais. Tal argumento procura impugnar um debate profundo sobre as diferentes manifestações culturais e artísticas produzidas atualmente. Se tudo é uma “questão de gosto”, qualquer juízo que se possa fazer sobre esses fenômenos musicais seria meramente um problema individual e que, portanto, em última instância, seriam considerações que não dizem respeito a uma concepção política e geral sobre a arte e a cultura.

Essa ideia é falsa por vários motivos, que tentaremos resumir nesse artigo e que iremos desenvolver em outras oportunidades.

Em primeiro lugar, é preciso ter claro que o monopólio das comunicações e do entretenimento não está aí para criar um estilo musical, mas para produzir e reproduzir determinadas fórmulas que sirvam aos interesses desses monopólios. Portanto, não se trata de diferentes estilos musicais, mas de fenômenos meramente artificiais produzidos por esses monopólios.

Em segundo lugar e talvez mais importante: o capitalismo na época decadente, ou seja, de domínio completo dos grandes monopólios não é capaz de criar nada. Aqui entendendo a palavra criar no sentido da criatividade que é a necessidade de que haja certo grau de espontaneidade para acontecer qualquer obra ou movimento artístico.

Seria absurdo, portanto, acreditar que nessas duplas e cantoras, principalmente as do chamado “Sertanejo Universitário”, há certo grau de espontaneidade que permitisse de fato a criação de uma arte ou movimento artístico genuínos.

O que se tem aí é uma reprodução de fórmulas necessárias para o próprio funcionamento das engrenagens dos monopólios que produzem essa música. Assim, é preciso repetir as fórmulas nas letras, no ritmo, na harmonia, na melodia e até mesmo no visual. Por isso, nem é necessário ter um ouvido tão atento para perceber a semelhança de uma música para outra. Quase não se percebe a diferença entre uma e outra dupla ou cantora e entre uma ou outra faixa musical.

Os monopólios são inimigos da arte, da cultura e da criatividade. É preciso ter isso como ponto de partida fundamental da análise. E esse problema piora e muito na nossa época, em que a decadência capitalista chegou a patamares nunca antes atingidos.

Alguém ainda poderia objetar: “mas a época imperialista e de domínio dos monopólios não vêm desde o início do século XX?”. Respondemos que isso é um fato, mas é preciso ter em conta o aprofundamento desse domínio e, por consequência, dessa decadência. Se antes, a indústria fonográfica permitia o aparecimento de determinados fenômenos artísticos, hoje essa possibilidade é muito remota, pois a própria existência do capitalismo está em jogo. Desse modo, é preciso controlar cada manifestação cultural genuína e mais ainda, se preciso for, sufocá-la e esmagá-la.

Nesse sentido, até mesmo determinados estilos musicais que fogem um pouco dos modelos mais populares estão impregnados por essa característica tão nefasta. Vem daí o cada vez mais escasso aparecimento de novos artistas, verdadeiramente criativos em todos os gêneros musicais da música popular. O mesmo fenômeno se vê não apenas no chamado “sertanejo universitário”, mas também na chamada “nova MPB”, em grupos de rock mais recentes e em outros estilos populares. Há uma padronização geral dessa música, e os que tentam fugir, acabam sendo atingidos direta ou indiretamente.

Esse fator fundamental precisa ser levado em conta. Não se trata de gosto, mas de imposição dos monopólios contra o povo. As músicas que tocam nas rádios incessantemente não tem o mérito de cair no gosto do povo. O fato de que elas são insistentemente tocadas é uma maneira artificial e forçada de torna-las conhecidas e populares.

Há ainda outro fator que não é meramente um problema teórico. Essa geração das duplas e cantores do chamado “sertanejo universitário” são produtos diretos do poder dos latifundiários, que, entre outras coisas, controlam boa parte dos mega shows que ocorrem nas cidades do interior do País. Nem seria necessário dizer que controlam também a maior parte das rádios do interior e grande parte das rádios das capitais. Desse modo, a luta pelo dinheiro é encarniçada, cada tempo na rádio, na TV e cada presença em grandes eventos e na distribuição dos discos é disputado entre as diferentes fatias do mercado da música.

Quem pode mais, chora menos. Quem tem mais poder econômico, impõe o seu artista apadrinhado.

Por fim, não dá para ignorar o fato escandaloso de que essas atrações não têm nem nunca tiveram nenhuma relação com a luta dos trabalhadores, menos ainda com a luta contra o golpe. Pelo contrário, o “sertanejo universitário” é reconhecido como um estilo tipicamente bolsonarista – não poderia ser diferente pelo motivo citado acima. Um caso mais explícito é o de Simone, da dupla Simone e Simaria, que estará presente no ato, que desejou boa sorte a Bolsonaro depois do resultado das eleições fraudadas de 2018. Pode haver alguma exceção, mas ela só confirmaria a regra.

Na divulgação do ato unificado de 1 º de Maio constam músicos que estão ligados à luta dos trabalhadores, como a sambista Leci Brandão, por exemplo, mas o destaque é mínimo. A distribuição de dinheiro, cada uma dessas duplas não sai por menos de 100 mil reais, chutando baixo, se dá para os potenciais amigos de Bolsonaro, enquanto que nunca se tem dinheiro para fazer caravanas, imprimir e distribuir panfletos, fazer campanha pela liberdade de Lula.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.