A região do MATOPIBA é formada pela fronteira agrícola do cerrado dos Estados do Maranhão (MA), Tocantins (TO), Piauí (PI) e Bahia (BA) e conta com o avanço da grilagem de terras públicas e dos latifúndios, e com isso a pistolagem e invasão de terras indígenas e quilombolas.
Os latifundiários entram nessa enorme região destruindo o Cerrado brasileiro e expulsando as comunidades tradicionais para implantar grandes projetos de especulação imobiliária e do agronegócio. Avançam também em outras regiões próximas e adentram a Floresta Amazônica e terras indígenas.
Para colocar em marcha esse plano, a direita no campo busca pistoleiros de diversas regiões do País para intimidar e expulsar essas famílias que ocupam essas regiões há muitos anos. Diante disso, a região passa a ser uma das mais violentas em relação aos conflitos no campo diante da omissão do Estado até o golpe de Estado em 2016.
Após o golpe, o Estado sob o controle de Bolsonaro e da extrema-direita começa a atuar abertamente contra essas comunidades como estamos vendo nos dias atuais com o aumento exponencial da violência no campo, principalmente contra os indígenas.
Foi nessa região que ocorreram nos últimos meses os assassinatos contra os indígenas Guajajara e seus grupos de autodefesa chamados de Guardiões da Floresta, onde através da formação de grupos de indígenas selecionados e armados, protegiam suas aldeias e de invasões de madeireiros e latifundiários de suas terras.
Os Guajajara já tomaram a frente e outras comunidades estão seguindo o exemplo. Há discussões na comunidade dos quilombolas do Maranhão que organizaram o MOQUIBOM em busca de seus direitos e estão pautando a autodefesa.
Outras etnias seguem o exemplo e a notícia mais recente é a declaração de lideranças indígenas Ka’apor de que irão defender seu território e suas famílias da ação dos madeireiros que praticam a extração ilegal de madeira e grilagem de terras a qualquer custo.
A formação de grupos de autodefesa é fundamental pois é a única maneira de se proteger das ameaças dos latifundiários e da extrema-direita que tomou de assalto o governo federal e estaduais, e que em alguns casos uma política muito semelhante é colocada em prática por governos de esquerda, como Flávio Dino (PCdoB/MA) e Rui Costa (PT/BA).
Ao contrário do que a esquerda coloca, os grupos de autodefesa são uma necessidade natural diante da violência do governo, da direita e da polícia. Por isso, a esquerda deve estimular a formação de grupos de autodefesa, inclusive levantando o direito de se armar, para impedir a violência e as invasões de terra.
Veja a nota do povo Ka’apor abaixo:
“Vocês destroem as florestas tirando madeira, o governo não faz nada porque apoia, mas nós vamos pra cima”.
Os madeireiros e os fazendeiros agora estão pensando que estão mandando com esse governo Bolsonaro. Esses anos eles mataram lideranças do nosso povo, atiraram e agrediram guardas de Autodefesa Ka’apor e nenhum deles a justiça prendeu. A gente não entende porque o governo do Maranhão não fiscaliza, não prende e nem fecha as serrarias da região. Queremos avisar que não vamos aceitar essas agressões com a nossa casa que é nosso território. Não vamos parar de fazer ação de proteção de nosso território porque nossa vida depende dele. Os governos federal e estadual serão culpados pelo o que acontecer. Não vamos aceitar que os madeireiros/fazendeiros continuem colocando pistoleiros na entrada de nossas comunidades para perseguir e matar nossas lideranças como está acontecendo agora esses dias. Nossa força está na nossa resistência. Nosso recado está dado.
TIAT, 23 de dezembro de 2019.
Tuxa ta pame
Ka’a mupy ta ha”