Na última sexta-feira, as entidades organizadoras dos atos do dia 14 e do dia 18 deste mês lançaram a nota de cancelamento das manifestações por conta de uma suposta “responsabilidade” quanto ao aumento da propagação do coronavírus (COVID-19) na população. Os atos de luta contra o governo direitista, portanto, seriam os responsáveis pela disseminação da doença, enquanto a desmobilização social e a luta no congresso contra as PECs bolsonarista, seria a solução de todos os problemas.
Enquanto a burocracia da UNE e das centrais sindicais acabavam com as mobilizações, contudo, as milhares de pessoas que iriam lutar por seus direitos nos atos, estavam aglomeradas a outras milhões de pessoas a caminho do trabalho nos transportes coletivos superlotados. Uma grande parcela dessa multidão, estava há horas nas filas de hospitais e postos de saúde, aguardando tratamentos médicos, testes de coronavírus e em busca de vacinas contra a gripe. Outra parcela, sequer poderia receber tratamento, devido a falta de comprovante de residência, por habitar a calçada da praça da sé.
De fato, evitar aglomerações de pessoas evita o contágio pelo coronavírus. Mas, pode-se considerar, que isso sequer está em questão. O metrôs e ônibus continuarão superlotados. Os hospitais devem ficar ainda mais abarrotados de pessoas. Os moradores de rua, continuarão sem assistência e amontoados na ruas da cidade. O governo burguês permanecerá burguês, queimando trilhões para salvar os bancos e negando misérias para impedir a verdadeira catástrofe social que será a crise do coronavirus.
O acesso a tratamento, ao teste do COVID-19, a leitos nos hospitais e camas de UTI, portanto, é um direito ainda a ser conquistado. Nesse sentido, a crise de saúde do coronavírus é uma questão da luta por direitos básicos da população, uma questão da luta esquerda contra a direita. E a força da esquerda vem exatamente da mobilização social, da realização de atos, congressos e conferências. Por outro lado, a força da direita deriva do controle total das instituições, o governo, o judiciário e o congresso nacional.
Portanto, esperar do congresso do golpe de estado, dos governos bolsonaristas e, finalmente, do próprio Jair Bolsonaro, a solução para a crise de saúde, é uma loucura política. A única solução para a população brasileira é a luta independente pelos seus interesses. Colocado o problema de vida ou morte, fica ainda mais patente a necessidade central da organização dos trabalhadores, e, portanto, da realização de atos, congressos, conferências, em torno do problema da derrocada do governo golpista e do estabelecimento de um governo de trabalhadores. Nesse sentido, desmarcar atos de luta, é um ataque direto ao próprio direito a vida da população brasileira. O debate sobre o direito de manifestação, portanto, deve resultar na conclusão, não que os atos são perigosos para a vida do povo, mas que eles são a única forma de salvar a população de um verdadeiro caos social.