A esquerda pequeno-burguesa é responsável por teses bastante curiosas. Tendo em vista o dia 20 de novembro, um dia fundamental na história de luta do povo negro brasileiro, vamos explorar nesta coluna uma das teorias mais exóticas desta esquerda: a de que o povo brasileiro não tem disposição para a luta, e que isso se daria, entre outros motivos, pela escravidão no país, que teria nos deixado submissos.
É uma argumentação que busca antes de mais nada derrubar o moral do povo brasileiro, mas que não faz nenhum sentido. Afinal, com esta mesma “lógica” poderíamos concluir que a independência de uma colônia do jugo imperialista seria impossível, já que aparentemente, o histórico de opressão faria com que os povos ficassem subjugados cronicamente. Neste sentido, é muito oportuno assistir a palestra apresentada pelo companheiro Juliano Lopes, do Coletivo de negros do PCO, o João Cândido, em comemoração a este último dia 20 de novembro. Na palestra, o companheiro mostrou um pouco das gigantescas lutas que os negros africanos travaram – e ainda travam – pela sua independência diante do imperialismo.
Esta teoria, no entanto, se baseia também em outro senso comum, que se houve com frequência nos círculos pequeno-burgueses. De acordo com esta concepção, a abolição da escravidão no Brasil teria se dado por “cima”, através de acordos, sem que os escravos brasileiros tivessem se mobilizado, organizado revoltas, etc.. Antes de mais nada, trata-se de uma falsidade histórica, como se pode constatar nas revoltas cada vez mais amplas que aconteceram no período anterior à abolição. Por outro lado, mostra que estes setores simplesmente não compreendem como pensam as classes dominantes, como a burguesia ou os latifundiários. Destes, não é possível conseguir absolutamente nada de graça. Quem já viu um patrão chegar de bom humor na empresa distribuindo aumentos salariais pra todos os funcionários?
Finalmente, é preciso destacar que, além desta tese ser fundamentalmente falsa do ponto de vista histórico, ela também não tem lastro na realidade atual. Na verdade, ao contrário do que pensa a esquerda pequeno-burguesa, o povo brasileiro não é burro, inconsciente ou submisso. Pelo contrário, é um povo de luta e em grande medida muito consciente, muito à frente desta esquerda. Quando vemos a esquerda pequeno-burguesa atacando o povo brasileiro, na realidade trata-se de uma tentativa de mascarar o próprio imobilismo e inanição política dela mesma.