Por Victor Assis
A duas semanas da maior festa popular do país, milhares de foliões compareceram às ladeiras de Olinda no sábado (8) e no domingo (9) para participar dos vários blocos das prévias carnavalescas. No dia 8, o destaque foi o Trote do Elefante, dono de uma das canções mais famosas desse período — “Olinda, quero cantar / A ti esta canção”. No dia 9, pelo menos 20 blocos passaram pelo sítio histórico olindense, incluindo o Blocão pela Democracia e a Pitombeira dos Quatro Cantos.
O carnaval de Olinda, no entanto, não é só festa. E isso, como tudo no país, não se dá por algum desastre inexplicável: o governo Bolsonaro e seus patrões vem travando uma duríssima briga pela destruição das festas populares, bem como o futebol e tudo aquilo que sirva para reunir o povo. O momento em que fica mais evidente o talento da burguesia para estragar a festa dos trabalhadores é quando aparece — cada vez mais frequentemente — uma milícia fascista fardada, munida de cassetetes e armas letais e que utiliza bonés laranja ou — nos casos dos mais carniceiros — quepes à la Capitão Nascimento.
A milícia fascista da qual me refiro é ela, a mais odiada e mais sanguinária instituição do Estado burguês: a polícia militar. Disfarçada sob o discurso da mitológica segurança pública, a polícia militar, cujas bases da atuação remontam a época da ditadura militar de 1964-85, é um destacamento com cerca de meio milhão de membros ativos orientados única e exclusivamente a reprimir a população — em suas manifestações, protestos, festas e em todos os momentos em que se coloca em conflito com os interesses da classe dominante.
Prisões arbitrárias, torturas e intimidações durante as prévias carnavalescas já se tornaram mais do que comuns. No entanto, no último domingo, um episódio da mais absoluta truculência chamou particularmente a atenção de quem estava presente no entorno da Igreja de São Pedro Apóstolo, onde confluem vários blocos carnavalescos.
Carnaval no Brasil sem cerveja não é carnaval. Certamente, não há nenhuma outra época do ano em que a indústria cervejeira fature tanto. Seja pelo caráter descontraído da festa, seja pelo calor intenso que se faz em Olinda, difícil é não ver quem esteja com uma latinha na mão. Somado a isso o fato de as prévias e o próprio carnaval durarem o dia inteiro, é impossível curtir os blocos sem que surja, em algum momento, uma vontade de ir ao banheiro.
Poucas coisas são tão conhecidas pelo homem há tanto tempo quanto a necessidade fisiológica de urinar. Mas, para o país dos golpistas — da qual a Olinda sob comando do bolsonarista Professor Lupércio (Solidariedade) não escapa —, banheiro não parece ser uma necessidade. Resta então, as seguintes opções para o folião: (a) encontrar um raríssimo e disputado banheiro químico instalado pela Prefeitura, (b) encontrar um raro estabelecimento que “bondosamente” permita que o folião se satisfaça desde que forneça ao menos R$ 2 em troca e (c) a única alternativa que se torna efetivamente viável, encontrar um muro ou um poste que sirva para esvaziar a bexiga.
Um muro que fica na Rua 27 de Janeiro, ao lado da escadaria para a igreja, é costumeiramente utilizado para esse fim. No entanto, para o azar dos foliões, a Polícia Militar decidiu que iria utilizar a entrada da igreja como seu camarote exclusivo. É importante registrar que a escolha não foi aleatória: a entrada da igreja e a escadaria eram utilizadas pela população durante o carnaval, antes de ser enxotada pela polícia.
Por várias vezes, cheguei a ver alguns corajosos foliões a irem urinar naquele que é o único muro que há por perto. Para a sorte deles, saíram ilesos. Contudo, o fatídico dia chegara: após o último domingo, o muro certamente ficará protegido de qualquer atentado urinário — quanto aos atentados da direita, que sabotam o patrimônio cultural do povo, a igreja não está nada a salvo.
Alguns desavisados que procuraram, no muro da Igreja de São Pedro Apóstolo, se livrar da cerveja que haviam ingerido foram advertidos pelos policias que os observavam sadicamente de cima da escadaria. Uma vez que já haviam começado a urinar, os foliões ignoraram a advertência da polícia — nada mais normal para quem não quer destruir seu esfíncter uretral. Os policiais, no entanto, ao ver sua “autoridade” ser “questionada”, começaram a gritar com os foliões, até que o membro mais carniceiro do bando pegou um coco e jogou em cima dos perigosíssimos infratores. O coco não feriu ninguém, mas obviamente serviu para assustar os condenados por sentirem vontade de mijar. E o PM do coco, ao invés de ser repreendido pelos seus colegas, recebeu o apoio dos demais agentes, que sacaram suas latas de spray de pimenta e ameaçaram atacar qualquer um que se aproximasse do muro.
Nenhum PM, obviamente, tem tanto zelo assim pela igreja olindense. Inimigos da cultura, as tropas da PM não diferentes da tropas fascistas comandadas por Mussolini ou por Adolf Hitler: são um exército dedicado a aterrorizar a população e a sufocar toda a vida social. Mas o episódio mostra claramente o desprezo da instituição para com a população e a disposição a atacar duramente o povo sem qualquer motivação.
A burguesia já tem sua milícia fascista pronta, ansiosa para tocar o terror país afora. Basta apenas um chamado. Por isso, é preciso organizar, urgentemente, a luta pela derrubada imediata do governo Bolsonaro e a autodefesa dos trabalhadores contra a extrema-direita fascista.