Uma das características positivas de todo movimento popular e de massas é a criatividade em transformar em músicas ou gritos de guerra determinadas palavras de ordem, que expressam o sentimento do povo contra um governo ou uma determinada política.
Uma delas, em particular, “ei, Bolsonaro, vai tomar no c*!”, explodiu em pleno o carnaval brasileiro, sintetizando de uma forma acachapante o profundo repúdio popular ao fascista Bolsonaro, isso quando seu governo não tinha mais do que dois meses, e se transformou em um dos gritos de guerra mais presentes em todas as manifestações ocorridas a partir do carnaval.
Como uma contraposição a esse grito de guerra que se traduz pelo “Fora Bolsonaro” foi introduzido um outro, artificial, com interesses escusos, pela direção da UNE, que na aparência é contra Bolsonaro, mas que pelo seu conteúdo é absolutamente moderado e um tanto capitulador e vai na contramão da luta por derrubar Bolsonaro, que é “Bolsonaro, seu fascistinha! Os estudantes vão botar você na linha!”
Uma primeira questão que salta aos olhos é que as mobilizações como vêm se configurando são nitidamente um movimento para pôr abaixo o governo e não para, de alguma maneira, procurar enquadrá-lo, como se apresenta na musiquinha.
Por outro lado, enquadrar Bolsonaro exatamente como? Se seus próprios pares no governo pouco ou nada têm sido bem sucedidos nesse intento? Veja-se o caso dos generais, que tão ou mais fascistas que o próprio Bolsonaro, estão atrás de esconder a sujeira produzida cotidianamente pelo capitão presidente.
Se os militares, os braços armados do golpe, não conseguem conter o presidente, será o movimento estudantil que conseguirá essa proeza? Evidentemente, que não.
Uma regra elementar da política aprendida com as experiências fascistas e nazistas dos anos 30 é que com o fascismo não há acordo, não há conciliação. Ou o movimento esmaga o fascismo ou por ele será esmagado. Aliás, a função histórica do fascismo é a de justamente esmagar o movimento operário a começar pelas suas organizações (partidos, sindicatos e também as organizações estudantis).
O que quer então o PCdoB, que controla a direção da UNE, com essa política? Simples: conciliar com o golpe de Estado, para evitar uma saída independente das massas com relação ao regime imposto pelo golpe, portanto conciliar com o próprio Bolsonaro, canalizando o descontentamento popular para o campo institucional, parlamentar e eleitoral.
Só há duas saídas políticas para o Brasil: “Fora Bolsonaro” ou “Fica Bolsonaro”. A primeira saída já foi escolhida pelo explorados brasileiros e só não atingiu um grau maior de radicalidade justamente porque do outro lado há partidos da esquerda pequeno-burguesa, que são verdadeiras barreiras de contenção na evolução do movimento.
A segunda saída é absolutamente ilusória do ponto de vista dos interesses das amplas massas. Caso Bolsonaro não seja derrubado, teremos a vitória do golpe, que por conveniência ou mesmo diante da evolução da crise política, pode manter o próprio Bolsonaro ou produzir um governo bolsonarista sem Bolsonaro.
Ao contrário do que espera essa esquerda pequeno-burguesa, que também é iludida com a sua própria “esperteza”, e nesse aspecto tem seus olhos voltados para 2020 e 2022, não existe vácuo em política. Caso os trabalhadores e os explorados não ocupem a cena política, o golpe de Estado vai se recompor e levar à frente a ferro e fogo sua política de destruição do país.