O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, condenou como crime hediondo o aborto legal realizado em uma criança de dez anos vítima de estupro. O caso chocou o País e enquanto a população em geral apoiava a medida de saúde adotada, a interrupção da gravidez da criança, a extrema-direita utilizou-o como cavalo de batalha para a sua luta contra o direito das mulheres, mesmo o limitadíssimo direito ao aborto previsto na legislação.
Em mensagem publicada nesta segunda-feira (17), o líder religioso da CNBB juntou-se a horda fascista contra os direitos das mulheres, sob o cínico argumento de defesa da vida.
Segundo o dom Walmor teriam ocorrido dois crimes hediondos: “A violência sexual é terrível, mas a violência do aborto não se explica, diante de todos os recursos existentes e colocados à disposição para garantir a vida das duas crianças. As omissões, o silêncio e as vozes que se levantam a favor de tamanha violência exigem uma profunda reflexão sobre a concepção de ser humano”.
E ainda: “lamentável presenciar aqueles que representam a Lei e o Estado, com a missão de defender a vida, decidirem pela morte de uma criança de apenas cinco meses, cuja mãe é uma menina de dez anos”.
A posição do Bispo revela o caráter profundamente reacionário da Igreja Católica e que este permeia todas as instituições e organizações que a compõem ou que estão a ela relacionadas, mesmo as que apresentam-se como progressistas ou mais democráticas, como é o caso da CNBB.
Diante da defesa efetiva dos direitos democráticos, o véu progressista da CNBB vai ao chão, revelando assim sua verdadeira face, que é a doutrina reacionária, medieval, da Igreja Católica Apostólica Romana.
A Igreja Católica, na sociedade moderna é um dos baluartes do reacionarismo, das concepções pré-revolução francesa, pré-direitos democráticos, pelo menos do ponto de vista ideológicos, já que não possuem mais força para impor pela violência essa doutrina. A burguesia mundial saúda e impulsiona essa e outras ideologias reacionárias por ser ela uma classe social decadente; contra-revolucionária; reacionária, contra os direitos democráticos que no passado defendeu, mas que hoje se contrapõem a seus interesses.
Setores da esquerda que muitas vezes procuraram relacionar-se com a CNBB por considerá-la democrática devem sem dúvida cortar o cordão que as ligava, a frente-ampla que compunham com ela, está mais que provado que a CNBB não é uma instituição que defenda os interesses democráticos dos oprimidos e assim qualquer ação em comum só será realizada, da parte da instituição religiosa, se for para atender os interesses dos opressores.