A burguesia nacional e o imperialismo revelam-se cada vez mais empenhados em concluir o seu processo de domínio total sobre uma das maiores paixões e um dos principais patrimônios do povo brasileiro — o futebol. A bola da vez é a transformação dos clubes de futebol em empresas capitalistas: de associações sem fins lucrativos, modelo adotado por praticamente todos no país, passariam a ser sociedades anônimas ou limitadas.
O chamado “clube-empresa” já é o modelo que vigora amplamente no futebol europeu, pelo qual os clubes de futebol são dirigidos diretamente por grandes monopólios capitalistas. Por lá, a massacrante maioria dos clubes é agora propriedade de grandes capitalistas do ramo do petróleo, das comunicações, de bebidas, da especulação financeira etc. Trata-se de um modelo intimamente relacionado com o predomínio da política neoliberal em todo o mundo, a partir da década de 1980, com a Inglaterra de Margaret Thatcher, mais uma vez, assumindo o pioneirismo nessa área.
A replicação do modelo europeu em terras brasileiras tem sido tentada há mais de duas décadas, mas parece que, agora, com o desenvolvimento do golpe de Estado e a ofensiva política da direita e da extrema-direita no país, a burguesia finalmente dá indícios de que tomará medidas mais sérias para concretizar esse objetivo. É o que indicam as movimentações políticas mais recentes, tanto no Congresso e no Executivo quanto na CBF, nas federações e nos clubes de futebol.
O Governo federal, grupos no Senado e na Câmara dos Deputados, a CBF, as federações estaduais e os cartolas têm trabalhado nos últimos meses para articular as mudanças legislativas necessárias para a “empresarização” dos clubes. A ânsia da burguesia e de seus funcionários é tanta que já há, inclusive, conforme informa a imprensa burguesa, três propostas alternativas que competem entre si para promover a entrega total do futebol aos monopólios capitalistas.
Apoiado pelo golpista Rodrigo Maia, do DEM-RJ, há um projeto que está sendo gestado na Câmara dos Deputados que ainda será apresentado formalmente, mas que já gera a expectativa de ser votado no próximo mês de outubro. No Senado, com o apoio dos ex-atletas Romário (Podemos-RJ) e Leila (PSB-RJ), tramita o Projeto de Lei do Senado 68/2017, que institui uma dita “Lei Geral do Esporte” e regulamenta a criação de uma sociedade anônima específica para o esporte. O governo fraudulento de Jair Bolsonaro também demonstrou interesse na matéria e o seu Ministro da Economia, Paulo Guedes, escalou o seu assessor Afif Domingos para acompanhar o desenrolar das discussões legislativas e interferir no processo com ideias próprias.
Independentemente das particularidades de cada proposta, o importante aqui é destacar o avanço real da iniciativa da direita golpista no sentido de destruir o futebol enquanto esporte, arte e manifestação popular.
Restrito no Brasil a apenas alguns clubes de menor expressão, o modelo de clube-empresa ameaça se generalizar pelo país afora, constituindo um verdadeiro ataque contra o povo torcedor, formado por trabalhadores, pobres e explorados, que serão inevitavelmente excluídos e jogados para fora dos clubes e dos estádios.
A instituição do modelo de clube-empresa significa a passagem do controle indireto (por meio de “parcerias”, patrocínios, consultorias etc.) para o controle direto dos clubes pelos grandes capitalistas. Para conseguirem dominar totalmente os clubes, os capitalistas sabem que é preciso acabar com qualquer vestígio de democracia, de participação popular, expressa na organização das torcidas dos clubes. As torcidas organizadas, como organizações do povo pobre e trabalhador, constituem um obstáculo real para os planos da burguesia, na medida em que se opõem às tendências nefastas — exemplificadas pela elitização dos estádios, pelo encarecimento dos preços dos ingressos, pela proibição das festas e das manifestações tradicionais das torcidas, pelo aumento crescente da repressão policial etc. — que serão levadas às últimas consequências com a implementação do clube-empresa. Para a burguesia, é preciso neutralizar as torcidas organizadas, reprimindo-as ou, se possível, extinguindo-as. Daí toda a campanha que a imprensa burguesa e a direita vêm fazendo contra os torcedores, em favor da censura e da repressão sob o pretexto, por exemplo, do “combate à homofobia” nos estádios.
É imperativo denunciar os planos da burguesia para o futebol e se colocar abertamente ao lado daqueles que representam os interesses da ampla parcela dos torcedores dos clubes e têm totais condições – se seguirem uma política correta de enfrentamento com os inimigos do futebol – de impedir o controle dos capitalistas sobre as equipes. Contra o Futebol Moderno! Por um esporte popular, dirigido pelo povo organizado!