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Ofensiva imperialista

Clube-empresa, ataque às torcidas e arenas: futebol para poucos

É preciso contrapor aos ataques contra o futebol, uma programa que defende o controle das torcidas sobre os clubes e federações

Há algum tempo a imprensa do PCO vem denunciando a campanha articulada entre diferentes setores da burguesia, da direita nacional, em primeiro lugar o imperialismo, contra o futebol em geral e o futebol brasileiro em particular. Essa campanha política e ideológica se dá em vários aspectos, incluindo aí até mesmo a propaganda que coloca em dúvida a superioridade técnica do futebol brasileiro. Sobre esse último aspecto temos um sem número de artigos explicando os objetivos e a origem dessa propaganda, mas deixemos momentaneamente de lado tal discussão, embora também consideremos essencial para compreender a campanha geral citada no início.

Querem retirar do povo o futebol. É este o objetivo central da campanha. Quase que simultaneamente estão sendo debatidos no Congresso Nacional e no Executivo dois projetos cuja essência é um brutal ataque ao futebol.

Clube-empresa, a privatização do futebol

Projeto tramita na Câmara, tendo como um dos principais impulsionadores o presidente da Casa, golpista Rodrigo Maia, que prevê “incentivar” clube e deixarem de ser associações civis e aderirem a modelos empresariais. Esta transformação, na prática, já começou, alguns times já criaram suas SAs (Sociedade Anônima), outros foram comprados por grandes empresas e já existe no Brasil o fenômeno dos clubes artificiais, criados e geridos por empresários ou grupos capitalistas.

O caso mais recente é o do próprio Bragantino, comprado pela multinacional austríaca, a super poderosa do setor de bebidas Red Bull. O clube, tradicional do interior paulista, vice-campeão brasileiro em 1991, pertence agora a um grande monopólio imperialista. Com isso, os capitalistas que se apoderaram do clube estão à vontade para mudar o nome do time, que a partir do ano que vem irá se chamar Red Bull Bragantino, mudar o uniforme e até as cores. Um atentado contra aquilo do qual mais tem orgulho o torcedor.

Logicamente que esse nem é o problema mais grave da transformação dos clubes em empresas. Os capitalistas, como em qualquer lugar, não estão preocupados em desenvolver o futebol. Capitalista gosta de lucra, não de esporte nem de cultura. Como em geral acontece com a atividade capitalista no atual estágio de degradação imperialista, os monopólios agem de maneira meramente parasitária.

O clube-empresa funciona mais ou menos como a privatização das empresas públicas. O empresário adquire determinado clube, se aproveita de toda a estrutura construída por anos e anos pelos associados, torcedores etc e procura sugar o máximo de lucro daquilo. Não existe um investimento real, o que existe é uma especulação em torno da compra e venda dos jogadores, utilização dos espaços do clube estádio. Quando o capitalista já obteve tudo o que foi possível ali, a tendência na maioria dos casos, é que simplesmente abandone o clube, deixando-o completamente à míngua. Por exemplo, se o clube tem uma categoria de base formada, aqueles jogadores formados ali não serão nada mais do que “pé de obra” barata para entregar ao futebol estrangeiro. Alguém poderia argumentar que isso já ocorre, o que vai acontecer no clube-empresa é o aprofundamento desse fenômeno, que vem se deteriorando justamente pelo aumento da presença dos capitalistas nos clubes e federações.

Em suma, o clube-empresa é um ataque brutal ao futebol brasileiro de conjunto e a entrega desse patrimônio, tanto do ponto de vista econômico, mas também cultural do País para os grandes monopólios, em primeiro lugar os monopólios estrangeiros.

Ataque às torcidas: atentado ao direito de organização do povo

Nessa terça-feira, Bolsonaro sancionou a lei que altera o estatuto do torcedor aumentando a punição para as torcidas cujos membros se envolvam em crimes. A alteração especifica quais seriam esses crimes: invadir local de treinamento; brigar com torcedores ou induzir o confronto entre eles; praticar crimes contra atletas, árbitros, fiscais, organizadores de eventos esportivos e jornalistas.

Chama a atenção a preocupação com a invasão de local de treinamento. Primeiro porque esse é um método legítimo de protesto das torcidas quando precisam exigir determinadas coisas de seu time. É legítimo porque as torcidas, como organizações que representam os interesses de milhares ou até milhões de torcedores, tem o direito de protestar, pressionar e participar ativamente dos rumos do clube. A “invasão” só pode ser chamada assim porque a esmagadora maioria dos clubes são completamente fechados à participação popular. Se o povo, no caso as torcidas, tivesse direito político e administrativo sobre os clubes, não precisaria haver invasão.

Mas o real motivo da preocupação da burguesia em punir esses protestos está diretamente relacionado ao projeto do clube-empresa. Para que os planos dos capitalistas que estão de olho nos clubes possam ser bem sucedidos é preciso que as torcidas estejam bem longe, não tenham absolutamente nenhuma participação.

Torcidas organizadas, “sindicatos” de torcedores

Não é à toa que uma das punições previstas é o afastamento da torcida por até cinco anos dos estádios. Um ataque ao direito básico do cidadão e das organizações de frequentarem os estádios.

O interesse dos capitalistas em acabar com as organizadas pode ser comparado ao interesse do patrão em destruir um sindicato. Assim como um sindicato é uma organização que unifica os trabalhadores para exigirem determinados direitos e interesses na fábrica, as torcidas organizadas são o instrumento dos torcedores para exigirem que seus interesses sejam atendidos. São os torcedores, afinal, os maiores apaixonadas e interessados nos clubes.

Esse é o fundo da perseguição às torcidas.

Mas é preciso chamar a atenção ainda para um problema político fundamental. A perseguição, a repressão e a censura contra as torcidas organizadas é um laboratório para a perseguição contra todos as organizações e movimentos populares. A direita, inimiga da organização do povo, está usando as torcidas como primeiro alvo para atacar esse direito, que deveria ser irrestrito.

A eliminação das organizadas está relacionada também com outro problema. A elitização dos estádios de futebol, representada em primeiro lugar pelas arenas e seus ingressos caríssimos.

Arenas: estádios sem povo

As chamadas arenas ganharam força no Brasil a partir das preparações da Copa do Mundo de 2014. Várias delas foram construídas em todas as regiões do País e alguns clubes, como é o caso do Palmeiras, derrubaram seus tradicionais estádios para construir arenas.

Não se trata de ser contra a modernização e as melhorias na estrutura dos estádios em si. O problema é que isso serviu como cobertura para a transformação dos estádios em locais criados para receber setores da classe média alta e da burguesia. Isso está sendo feito por meio de um aumento descomunal do preço dos ingressos, completamente fora da realidade para um trabalhador médio.

Com isso, massas e massas de trabalhadores, que tinham na ida ao estádio uma forma de entretenimento cultural, estão de fora dos jogos. As arenas são cheias de torcedores que, em grande parte, sequer têm uma relação real com o time. E nesse sentido, as torcidas organizadas, conhecidas pelo seu papel ativo nos jogos, composta em sua maioria por elementos da classe trabalhadora e das camadas baixas da classe média, estão sendo retiradas dos estádios.

Com as arenas, vieram também a proibição de bandeiras, pirotecnia, faixas, bateria, uma verdadeira censura. Até mesmo os cantos das torcidas estão na mira da censura, sob o pretexto falso e demagógico de combate à homofobia, machismo e racismo, querem calar os torcedores. Para os capitalistas que querem colocar de vez as mãos nos clubes e federações, o bom é o torcedor calado, passivo, que não se manifesta e que pode pagar um ingresso caríssimo.

Fica claro que todos esses elementos, adicionando-se aí a propaganda ideológica contra o próprio futebol como cultura de massas genuína do povo brasileiro e procurando gerar dúvida sobre a qualidade técnica dos jogadores brasileiros com vistas inclusive a facilitar o sequestro desses jogadores por preços baixíssimos para a Europa, fazem parte de uma campanha articulada e orquestrada pelos grandes monopólios capitalistas para dominar definitivamente o futebol brasileiro.

É importante aqui uma breve nota sobre o comportamento da esquerda pequeno-burguesa que tem reproduzido essa campanha cuja fonte é o próprio imperialismo. Diante do título do Flamengo, vários setores da esquerda se colocaram a repetir o velha cantilena de que o futebol é “alienação”, que o povo brasileiro só sai à rua pelo futebol. A mesma reprodução da campanha da direita se vê quando esses setores esquerdistas confundem a CBF e seus cartolas com a Seleção Brasileira, estabelecendo uma política que se coloca frontalmente contra a Seleção e os jogadores, ao invés de defender a Seleção e o futebol e denunciar a CBF.

Tudo isso, é preciso dizer, coloca essa esquerda numa frente única com a direita que agora prepara a repressão às torcidas. Os que afirmaram que a torcida do Flamengo é “alienada”, se colocam automaticamente ao lado da polícia de Witizel, que protagonizou cenas absurdas de repressão contra o povo que estava na rua. Nesse caso, é preciso dizer, se há algum “alienado”, com certeza não será o povo que ama o futebol, expressão genuína de nossa cultura, mas os que acusam o povo.

Para frear esses ataques contra o futebol é preciso a defesa incondicional das torcidas organizadas contra todo o tipo de censura, proibições, punições e repressão. Defesa do direito irrestrito de organização dos torcedores e de todo o povo. Defesa do futebol brasileiro contra os capitalistas que saqueiam a cultura nacional. Contra o clube-empresa, é preciso uma política que coloque como programa central o controle dos clubes e federações pelos torcedores, em particular pelas torcidas organizadas.

O futebol é do povo!

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