“Governo loteado”, “elite política clientelista”, “negligência, irresponsabilidade, julgamento ruim”. Sob estes termos, dois dos principais porta-vozes do imperialismo no Brasil, Folha de S. Paulo e o Estadão tem ajudado a espalhar no País a propaganda difundida em todo o resto do planeta pelos países centrais do capitalismo, em franca campanha contra o Líbano, que governado por uma coalizão envolvendo o Hezbollah, teria, na versão interessada da imprensa burguesa, um regime corrupto, ineficiente e toda aquela conversa fiada conhecida pelos brasileiros. O que a propaganda esconde, por razões óbvias, é a origem destes problemas, que nada mais são do que consequências das pressões imperialistas sofridas pelo Líbano.
Ilustrativo disto, no dia em que o presidente francês Emmanuel Macron foi à antiga colônia a pretexto de oferecer ajuda humanitária, uma petição virtual começou a circular nas redes, solicitando que a França recolonizasse o país árabe por um período de 10 anos. Tudo isto enquanto Macron prometia ajuda (não se sabe a quem exatamente) e cobrava mudanças ao regime libanês, sentenciando que “se reformas não forem realizadas, o Líbano continuará a se afundar”.
Nesse sentido, chama atenção um artigo assinado publicado na Folha, onde o colunista defende que “o propósito da França seria resgatar o Líbano, atualmente sob influência síria e iraniana, à órbita de influência ocidental” (“O Líbano, a França e o Oriente Médio”, 12/8/2020). A importância do “resgate” dada pelo colunista e o papel da França no processo remete a um ideal civilizatório, tem todas as característica das campanhas empreendidas pelo imperialismo, que poderiam facilmente estar presentes em alguma propaganda do século 19, quando ainda era possível algum tipo de confusão, fruto da inocência da população em relação às “missões humanitárias” dos países adiantados contra os países “bárbaros”. Contudo, esta não é a realidade do mundo no século 21.
As monstruosidades do imperialismo são mais do que bem documentadas e conhecidas, de forma que só o cinismo burguês poderia levar adiante a ideia de que nações imperialistas irão resgatar qualquer país que seja, especialmente no caso da França, nação que junto dos Estados Unidos e da Inglaterra, compõe o tripé fundamental de sustentação do imperialismo.
Com a clareza de que o imperialismo é a origem das manifestações visíveis do atraso (tal qual no resto dos países atrasados do mundo), a superação dos problemas experimentados pelo país passa, inevitavelmente, pelo fim da ingerência das nações imperialistas sobre o Líbano. As situações típicas dos países atrasados, descritos de maneira superficial pela imprensa, só irão piorar caso o “resgate”, a “missão civilizatória” empreendida pelos franceses contra o Líbano prospere.