Não é de hoje que o mais notório membro da famigerada oligarquia dos Ferreira Gomes, que desde o século 19 vem mandando na cidade de Sobral, cumpre o papel de cavalo de Tróia na esquerda nacional. Revelados durante a campanha presidencial de 2018, documentos do extinto Serviço Nacional de Informação (SNI) produzidos durante a luta contra a Ditadura Militar revelam que sua política pouco ou nada mudou desde então.
O ano era 1979. Após 15 anos da mais brutal ditadura já imposta ao país, os estudantes brasileiros conseguiam, enfim, se reorganizar, após o duro golpe dos militares contra a organização estudantil ocorrida logo no início da ditadura, quando os golpistas jogaram a União Nacional dos Estudantes na clandestinidade.
O movimento estudantil, que já vinha experimentando uma crescente efervescência desde 1977, articulava a refundação da UNE com grande sensibilidade à profunda radicalização política que se operava na sociedade, o que tornava imperioso à direita ocupar um espaço no movimento que lhes permitisse esfriar ao máximo a temperatura. Eis que o Brasil conhece o então estudante de Direito Ciro Gomes.
Metido em um obscuro grupo chamado “Encontro Nacional dos Estudantes Não-Alinhados”, uma versão do MBL adaptado às necessidades políticas da época, que implica, obviamente, numa maquiagem muito mais elaborada. Ainda assim, o oligarca que hoje ataca ferozmente Lula e os setores mais à esquerda dentro do PT já teve a cara-de-pau de defender torturadores valendo-se (acredite se quiser caro leitor) da inexistência de “documentação legal que comprove os crimes” cometidos durante a Ditadura, conforme o relatório do SNI.
Esta foi a política defendida pela versão setentista do MBL, que entre outras aberrações, apregoava a necessidade de “Anistia Ampla, Geral e Irrestrita”, o que não beneficiava à esquerda, cujos militantes desapareciam, morriam, eram presos e torturados, mas (obviamente) aos criminosos da direita, resposáveis diretos pelo regime de terror que foi a ditadura. Aos fascistas fofinhos infiltrados no movimento estudantil, o julgamento dos torturadores “poderia dar à ditadura uma ideia de revanchismo”, justamente o que estes elementos buscavam impedir.
Saído do “movimento estudantil” para um cargo de deputado pelo partido da ditadura, cujo nome havia sido trocado de Arena para PDS, os latifundiários da família Ferreira Gomes entendem que a manutenção de seu poder implicam em algum nível de adaptação aos tempos, lição que os oligarcas acumularam com a experiência de quem tem séculos de atividade.
Nesse sentido, toda a baboseira maquiada por “projeto nacional de desenvolvimento” não passa de uma repetição da velha fórmula, não importam tanto quanto a defesa que o político burguês faz do imperialismo, da Lava Jato e pior, seus ataques gratuitos à como os que fez recentemente, contra Lula, os setores mais a esquerda no PT e órgãos de imprensa como o Brasil 247 e o DCM, chegando a baixaria de equiparar estes veículos ao bolsonarismo.
Defensor dos torturadores de então, Ciro Gomes segue na defesa o que existe de pior na política nacional. Falta a esquerda que ainda dá crédito a este tipo de canalha.