Numa entrevista publicada pelo jornal Estado de S. Paulo nessa segunda-feira (19/11/18), Cid Gomes, senador eleito pelo PDT do Ceará, disse que não fará “nem oposição sistemática, nem situação automática” em relação ao governo Bolsonaro. As palavras do pedetista destoam do tom adotado pelo seu irmão, Ciro Gomes, que durante a campanha chamou votos para si afirmando que seria o único que poderia derrotar Bolsonaro.
Durante a entrevista, Cid Gomes afirmou ainda que “torcemos para o país dar certo e queremos ajudar para que as coisas entrem nos eixos”, buscando se diferenciar, segundo ele, do PT e PSDB que teriam feito uma oposição ao estilo “quanto pior melhor”. Deixando assim claro que não será oposição a Bolsonaro, que foi escolhido pela burguesia nacional e estrangeira para aprofundar o golpe de Estado no país.
Nas palavras do pedetista, a ideia seria formar um bloco amplo no senado: “Citar nomes seria restringir. […] de partida, teria o PDT, Rede, PSB, PPS, vamos conversar com o PHS e PRB podendo chegar a 17 (senadores) com mais um senador com quem estamos conversando.” Ou seja, o bloco seria formado por partidos que apoiaram o golpe, apoiarão o governo Bolsonaro, mas buscariam manter algum tipo de aparência que o diferencie do governo.
Os irmãos Ferreira Gomes e Tasso Jeiressati (PSDB). Foto: Francisco Alves.
Gomes manifestou grande apoio à possível eleição de Tasso Jereissati (PSDB-CE) para a presidência do Senado: “O Tasso é um nome excelente, teria o perfil daquilo que se imagina para este lugar, mas certamente não é o único nome”. E também disse ainda ver com “bons olhos” a possível reeleição de Rodrigo Maia (DEM) para a presidência da Câmara dos Deputados: “é o nome que parte na frente. Ele está neste espectro de centro, de partido que não é nem situação automática, apesar de já ter três quadros escolhidos para o Ministério, nem oposição sistemática. Ele inspira estabilidade, até porque foi essa a postura dele nos dois anos de governo ou desgoverno Temer.”
Já quando foi perguntado sobre uma possível participação do PT no bloco parlamentar, Cid Gomes disse que não seria impossível, mas colocou uma pré-condição: “Desde que faça uma revisão, um mea-culpa do seu posicionamento histórico, que é de fazer oposição sistemática quando não são eles o governo.”
Ou seja, Cid Gomes deixou claro, como um dos representantes da oligarquia cearense dos “Ferreira Gomes” (a qual faz parte Ciro Gomes), que atuará com os demais partidos golpistas para dar sustentação ao governo Bolsonaro nos violentos ataques que serão desferidos contra o povo brasileiro. A fachada de oposição que Ciro Gomes procurou apresentar, com um leve verniz de esquerda, foi apenas uma manobra para dividir os votos do PT e assim, legitimar a farsa eleitoral que culminou na eleição do candidato escolhido pelos golpistas.
A oposição citada por Gomes, junto com DEM, PSDB e outros partidos menores, cumprirá um papel duplo para a burguesia golpista: procurará controlar o governo Bolsonaro sob a perspectiva do setor principal da burguesia golpista e, ao mesmo tempo, se colocarem como uma espécie de “time reserva”, que poderá ser usado eventualmente.
A exclusão do PT do bloco a priori, é mais uma demonstração de que a oligarquia Gomes atua para sustentar um regime golpista de completa destruição dos direitos e conquistas sociais. A dita “oposição responsável” nada mais é uma farsa para impedir uma real oposição ao governo Bolsonaro que só pode existir através de uma mobilização popular. A tal “frente democrática” nada mais é do que uma encenação parlamentar formada por partidos que dão sustentação ao golpe de Estado e a eleição fraudulenta de Bolsonaro.