O ano de 2020 assistiu ao agravamento da crise econômica em nível mundial e isso acirrou diversas disputas comerciais. No futebol, o monopólio da Globo foi sacudido pelos embates da emissora com o clube de maior torcida do mundo, o Flamengo. Pleiteando um maior valor para a venda dos direitos de transmissão dos seus jogos, o rubro-negro rejeitou a proposta da empresa que centraliza as transmissões de futebol no Brasil.
Comparando-se com os números de 2019, o clube carioca teve uma redução de cerca de 60% no número de jogos transmitidos pela TV aberta. Em 2020, apenas 14 jogos do Flamengo foram disponibilizados para o amplo público da emissora contra 33 no ano anterior. Em ambos os anos alguns jogos foram disponibilizados apenas nos canais pagos da Globo.
Aproveitando os embates da emissora com o ilegítimo governo Bolsonaro, cartolas do Flamengo conseguiram a aprovação de uma Medida Provisória que, entre outras coisas, destinava os direitos de transmissão dos jogos unilateralmente nas mãos dos times que jogavam em casa. Essa regra acabou com a necessidade de consenso entre ambas as equipes todos os jogos e pegou a Globo de surpresa. O formato anterior facilitava o controle da emissora, ao negociar com a maioria dos clubes o restante ficava amarrado aos termos impostos pelo monopólio.
Apesar do imbróglio inicial ter ocorrido na negociação do Campeonato Carioca, a transmissão dos jogos do Flamengo nas outras competições também foi reduzida, numa manobra de retaliação contra o clube. Apesar de não deter o poder econômico dos grandes monopólios dos países centrais do capitalismo, a Globo atua de forma bastante similar para garantir o controle das transmissões dos jogos.
Vale apontar que mesmo em embate com a emissora, o Flamengo ainda tem nela sua fonte de renda principal, o que é um claro sinal de monopolismo. No entanto, o clube tem conseguido ampliar o alcance da sua FlaTV, que passou a transmitir parte dos jogos e obtém audiência cada vez maior na medida em que os torcedores vão se acostumando com o novo formato.
A disputa com o popular clube do futebol nacional tem influído na queda histórica da audiência da emissora, o que impacta negativamente nos contratos de publicidade da Globo. Com isso, a crise no monopólio exercido pela emissora no futebol brasileiro continua se desenvolvendo e atingindo diversos setores da empresa.
É importante destacar que a atuação da Globo em relação ao futebol brasileiro sempre foi parasitária e prejudicial aos clubes. No país do futebol, os clubes são reféns há tempos de uma única empresa, que decide formato de competições, horário de jogos e o que mais convier. Ao mesmo tempo, restringe a audiência de diversos jogos nas suas TVs pagas, afastando os torcedores dos jogos dos seus clubes.