Na noite de terça-feira (22), o presidente do Chile, Sebastián Piñera, pediu “desculpas” à população por não ter se antecipado à crise social no país. Além do pedido de desculpas, o presidente de direita anunciou medidas sociais para tentar apaziguar a revolta popular que há uma semana toma conta do país, desde o dia 16. Piñera deu um aumento de 20% nas aposentadorias de alguns grupos, anulou um recente aumento de 9,2% na energia elétrica e criou uma espécie de “Bolsa Família” de 250 mil pesos para trabalhadores que tenham ganhos inferiores a esse valor (cerca de R$2 mil).
Repressão continua
Enquanto anuncia medidas sociais para tentar conter o ímpeto das manifestações contra seu governo, Piñera não refreia a violência da repressão de sua polícia contra o povo. Pelo contrário, na capital, Santiago, Piñera colocou as Forças Armadas na rua para reprimir civis, pela primeira vez desde o final da ditadura militar comandada pelo general Augusto Pinochet, encerrada em 1990. Na quarta-feira (23), o número de mortos já chegava a 18. Além disso, 592 pessoas foram presas por desrespeitar o toque de recolher imposto pelos militares, que em Santiago dura das 20h às 5h do dia seguinte. Outras 979 foram detidas sob acusações de terem usado violência nos protestos.
A repressão demonstra que a direita não está disposta a ceder o poder diante das revoltas populares que estão varrendo o continente. Dessa vez, diferentemente do que ocorria no começo dos anos 2000, a direita aprendeu com aquela experiência e está preparando uma reação contra a população e os trabalhadores rebelados. A direita golpista e aliada ao imperialismo está disposta a qualquer coisa para se manter no poder.
Greve Geral
Na quarta-feira (23), a Central Unitaria de Trabajadores (CUT), maior central sindical do Chile, convocou uma greve geral que paralisou o país, em mais um dia de protestos gigantescos contra o governo. A entrada dos trabalhadores por meio de sua principal organização assinala um desenvolvimento em relação ao que ocorreu recentemente no Equador, onde Lenín Moreno conseguiu contornar a situação, ao menos por enquanto, depois de uma onda de protestos liderada por entidades indígenas.
A pauta da CUT chilena é absolutamente política. Sua primeira exigência, antes das reivindicações econômicas, é o fim do toque de recolher e que nada seja aprovado pelos deputados enquanto o toque de recolher perdurar. Além disso, a central está chamando uma nova Assembleia Constituinte, para refundar o Estado chileno sobre novas bases, diante do fracasso desse regime político herdado da ditadura pinochetista.
Revolta contra o neoliberalismo é geral
O Chile é justamente o primeiro país no mundo a ter implementado uma política neoliberal sob a orientação de economistas da escola de Chicago. Neste momento, todo o continente luta contra essa política, em uma explosão de revoltas populares contra os governos golpistas impostos à região pelo imperialismo. Está se abrindo uma etapa de intensa luta na América Latina, com a reação dos trabalhadores ao neoliberalismo. Essa tendência também está presente no Brasil, e precisa ser organizada e estimulada contra a direita golpista e os capachos dos EUA.