Na noite dessa quinta-feira, 20 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou a MP que facilita a privatização da Eletrobras, uma das maiores e mais importantes estatais do Brasil.
Por “facilitar a privatização”, podemos entender que na madrugada deste dia foi aprovada a MP de privatização da Eletrobras, uma demanda antiga que remete à época dos vampiros FHC e Temer e teve sua continuação com Bolsonaro, até finalmente receber esse empurrão com a benção do centrão — que, diga-se de passagem, de centro não tem nada.
Dentre os partidos que votaram inteiramente a favor (desconsiderando abstenções/ausências) estão Patriota, PSL, Republicanos e PSC. Entre os partidos que tiveram deputados que votaram a favor da privatização estão Avante, Cidadania, DEM, MDB, PDT, PL, Pode, PP, PROS, PSB, PSD, PSDB, PTB e Solidariedade.
Nesse quadro vemos algo curioso: partidos como PSDB, DEM, MDB, PSD, PDT e PSB, ou seja, a “direita tradicional civilizada”, democrática, anti bolsonarista e científica, e a pseudo-esquerda, que são supostos aliados da esquerda na “luta contra o negacionismo”, simplesmente entregam de bandeja a maior geradora de energia elétrica da América Latina — justamente aqueles que são pintados como grande oposição atendem de bate e pronto os interesses de Bolsonaro e sua equipe, o que acaba também por tornar evidente que esses são também seus interesses.
Esse é também mais um dos fatos que entra em contradição com a CPI da Covid: essa está sendo pintada por parte da esquerda como o grande método que abriria um caminho para o impeachment quando, na verdade, é formada de diversos elementos do dito centrão que supostamente estaria lutando contra Bolsonaro, mas, ao mesmo tempo, ajudando-o.
Juntamente a isso ainda existe a porca campanha da imprensa contra Bolsonaro, a qual é uma mera brincadeira de criança quando comparada à intensa, frenética, histérica, mentirosa e golpista campanha contra os ex-presidentes Lula e Dilma durante seus respectivos governos.
É evidente que essas duas situações citadas acima são meramente uma fachada. Elas não possuem a intenção de derrubar Bolsonaro e muito menos sua política — na verdade, o único problema de Bolsonaro é que este é um pouco mais difícil de ser mantido na coleira pela burguesia, além de não ser muito aderente à demagogia que tanto fazem os integrantes do dito centrão.
Justamente por isso, é necessário para a burguesia abrir caminho para um candidato alternativo que continue com a mesma política de Bolsonaro, mas que tenha uma aparência mais palatável. E quem melhor que isso do que algum dos democráticos, anti bolsonaristas, científicos e civilizados da direita tradicional?
Como citado anteriormente, a Eletrobras é a maior geradora de energia elétrica da América Latina, sendo responsável por cerca de 30% da geração de energia elétrica do país. No mais, é fato que a privatização, assim como sempre acontece em qualquer setor privatizado, vai pesar no bolso da população. Estimativas feitas pela plataforma Operária e Camponesa para Água e Energia e pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) afirmam que a privatização vai resultar em um aumento de cerca de 20% das contas de luz dos consumidores brasileiros. Além disso, estimativas da Abrace (Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres) apontam aumentos também no setor produtivo que refletiriam no preço, por exemplo, de alimentos básicos como carne e leite.
É importante visar também que, como em toda privatização, ocorrerão cortes de salário e funcionários, isso num cenário catastrófico de aumento incontrolável do preço de insumos básicos e do desemprego.
É nesse quesito em que a esquerda acaba por cometer grandes erros. Ao acreditar e fazer alianças com os parlamentares do centrão, fazem alianças com os bandidos políticos que deram o golpe de 2016 e colocaram Bolsonaro no poder. Além disso, já é conhecimento popular que a direita tradicional é aquela que coloca a mão na massa pela burguesia, além de ser sua porta-voz. Como visto mais uma vez na aprovação da MP, é um absurdo fazer qualquer tipo de aliança com a direita, seja no Congresso por uma reivindicação momentânea, seja em uma frente ampla (já extremamente criticada por este Diário, com razão) “anti bolsonarista, democrática, humanista e civilizada” visando às eleições de 2022.