As eleições na Câmara dos Deputados e no Senado Federal mostraram, mais uma vez, o fiasco da frente ampla. A esquerda pequeno-burguesa, pressionada por suas alas mais direitistas e impulsionada pelos interesses mesquinhos de seus parlamentares, decidiu apoiar a candidatura do golpista Baleia Rossi (MDB) e sofreu mais uma retumbante derrotada. Não só perdeu a disputa para o candidato apoiado por Bolsonaro — Arthur Lira (PP) — como saiu ainda mais desmoralizada por ter ficado “com o mico na mão”.
No fim das contas, a maioria dos deputados do “centrão” que haviam se comprometido com a candidatura de Baleia Rossi acabou pulando fora do barco, diante da falta de unidade da burguesia que busca se opor a Bolsonaro, e aproveitou para ficar do lado que tinha mais cargos a oferecer — o do governo federal.
Os deputados da burguesia não agem com base em princípios, mas sim nos seus próprios interesses. Não têm, nem nunca tiveram, qualquer compromisso com o povo. São capazes de absolutamente qualquer coisa para manterem seus privilégios no interior do regime político. E é por isso que, sempre que tiverem de optar entre a esquerda e a extrema-direita, optarão pela extrema-direita, que é, essencialmente, um setor social comprometido com o Estado burguês. Se apoiassem a esquerda, estariam apoiando um setor social que se choca com os seus interesses: os sem terra, os trabalhadores, o movimento popular etc.
Dois “caciques” do Democratas, partido apoiado pela esquerda nas eleições na Câmara e no Senado, já estão dando mostras que o candidato do “centrão” poderá ser o próprio Bolsonaro. Em entrevista à Folha de S.Paulo após as eleições no Congresso, o presidente do DEM, ACM Neto, afirmou que poderá apoiar Bolsonaro em 2022. Tratava-se da primeira declaração explícita de um representante do “centrão” falando sobre essa possibilidade.
Depois da repercussão da entrevista de ACM Neto, a própria Folha de S.Paulo publicou uma matéria afirmando que o presidente do DEM poderá ser candidato a vice-presidente da República na chapa encabeçada por Bolsonaro. Há algumas semanas, o atual vice-presidente, Hamilton Mourão, havia dito que dificilmente seria candidato novamente na chapa.
O segundo “cacique” do DEM a se pronunciar abertamente sobre as eleições de 2022 foi o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, fundador da organização fascista UDR. Segundo, novamente, a Folha de S.Paulo, Ronaldo Caiado teria ido mais além do que ACM Neto:
“Eu sou favorável a apoiar o Bolsonaro em 2022. (…) Eu, na minha posição, vejo como sendo uma aliança de forças amanhã sendo o presidente candidato à reeleição”
O que chama ainda mais a atenção é que Ronaldo Caiado tinha anunciado seu rompimento com o governo Bolsonaro no início da pandemia. A esquerda pequeno-burguesa, na época, aplaudiu Caiado e tentou aproximá-lo para uma “frente democrática”. Agora, Caiado revela que não tem apreço algum pela democracia e finge que nunca se opôs ao presidente ilegítimo:
“Desde que o Bolsonaro foi eleito, eu sempre me posicionei dizendo que caminhar com o presidente tinha muito mais a ver com o nosso eleitorado, tinha uma identidade. Eu sempre defendi essa tese”.
Não causa qualquer surpresa. Caiado é a expressão do que são os políticos da burguesia: inescrupulosos que não pensam duas vezes antes de se aliar a um fascista. Em certos aspectos, políticos como Caiado são piores do que o próprio Bolsonaro.
Neste sentido, o cenário se desenha para que o centrão realmente apoie Bolsonaro em 2022, repetindo o que aconteceu no segundo turno das eleições de 2018. O que fará a esquerda? Vai continuar confiando no centrão, mesmo após o fiasco das eleições no Congresso e as declarações de que vai apoiar Bolsonaro? A esquerda tem que abandonar imediatamente e de uma vez por todas a crença na frente ampla, na aliança com o centrão, e construir uma candidatura independentemente. A única candidatura que pode unificar a esquerda, contra o centrão e Bolsonaro, é Lula: é a única capaz de mobilizar as amplas massas populares, e deve ser um enfrentamento claro e direto, polarizado e radical, contra toda a direita golpista, demonstrando que Bolsonaro é o candidato dos golpistas, da direita “democrática”, da burguesia e do imperialismo (caso realmente essa direita apoie Bolsonaro).