No dia 8 de janeiro, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), notório defensor do aparato de repressão de Sérgio Cabral — UPPs — e de Sérgio Moro — Pacote Anticrime —, convidou o Twitter a exportar, para o Brasil, a sua política de censura nas redes sociais:
E o Twitter botou uma focinheira no Trump. Vamos precisar de outra para o Brasil @Twitter.
— Marcelo Freixo (@MarceloFreixo) January 9, 2021
Na época, o deputado fazia alusão ao bloqueio da conta do presidente do país mais importante do mundo por um dos monopólios das redes sociais. O bloqueio teria sido justificado pela “incitação à violência” praticada por Donald Trump. Dias depois, milhares de páginas ligadas ao presidente de extrema-direita foram banidas da rede social.
O desejo de Freixo, enfim, acabou se tornando realidade. Apelando para os mesmos pretextos aberrantes, o Twitter decidiu, na última segunda-feira (18), apagar publicações do astrólogo e guru da extrema-direita brasileira Olavo de Carvalho. Dessa vez, as mensagens censuradas não estimulavam a invasão do Congresso. Carvalho foi suspenso por criticar a maneira como a imprensa está cobrindo a crise sanitária em Manaus. Segundo ele, a pandemia estaria sendo superestimada, e as mortes por falta de oxigênio teriam sido causadas por outras moléstias.
Embora as justificativas e as punições tenham sido diferentes, os casos guardam um problema fundamental em comum. Tanto no caso brasileiro, quanto no caso norte-americano, os usuários foram punidos por alguma consideração moral por parte do Twitter: como suas mensagens atentariam contra aquilo que seria “politicamente correto”, Trump e Olavo de Carvalho mereceriam ser banidos da rede social.
O critério moral, contudo, nunca foi um aliado da esquerda na luta contra seus inimigos políticos. Afinal, é sempre a classe dominante quem tem o poder de decidir aquilo que é e aquilo que não é moralmente adequado. São suas instituições — o Judiciário, a Polícia, o Ministério Público etc. — quem recebe esse tipo de poder. A política baseada na moral, e não mais em um Estado de Direito, é, inevitavelmente, uma ditadura da classe que controla o Estado.
E mesmo o Twitter sendo uma empresa privada, o problema se mantém: se é um monopólio — isto é, as pessoas não têm o direito a usarem outra plataforma —, o controle daquilo que é moralmente aceitável ou não permanecesse nas mãos dos capitalistas que controlam a empresa.
Os monopólios que controlam o Twitter, o Facebook, o petróleo, o Judiciário, os exércitos e as polícias em todo o mundo são os maiores inimigos da classe operária mundial. Foram eles quem organizaram o golpe de Estado no Brasil e levaram Bolsonaro ao poder. Estão por trás, inclusive, de todas as guerras do último período. Sua política é genocida e criminosa por definição.
Diante disso, permitir que os monopólios comecem a praticar a censura é permitir que aprofundem sua ditadura contra os trabalhadores em todo o mundo. Hoje, escolhem um setor mais impopular como alvo, que é o caso da extrema-direita. No entanto, o grande alvo dos monopólios sempre será a esquerda: tão logo seja necessário, o imperialismo lançará a mais dura censura contra os setores ligados ao movimento operário, na medida em que expressarem uma tendência à ruptura com o regime. E quando isso acontecer, não pensará duas vezes antes de colocar os fascistas nas ruas para garantir que a censura seja cumprida.