Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Fora todos os golpistas

Caso Witzel mostra que frente ampla só serve à burguesia

Encurralado pelos bolsonaristas, Wilson Witzel pode precisar recorrer à esquerda para sustentar seu governo

Nas eleições para governador do Rio de Janeiro de 2018, o presidente ilegítimo Jair Bolsonaro, que concorria ao cargo que ocupa hoje, decidiu, oficialmente, permanecer “neutro”. Seu filho, Flávio Bolsonaro, acabou declarando apoio ao candidato Wilson Witzel (PSC), um representante típico da extrema-direita carniceira. Mesmo sem o apoio oficial do presidente ilegítimo, Witzel conseguiu se vincular à sua figura, chegando a pagar 10% do orçamento de sua campanha para que o Google associasse seu nome ao de Jair Bolsonaro.

No início de 2019, parecia que Witzel e Bolsonaro iriam firmar uma dupla imbatível nos ataques ao povo pobre. O primeiro, ao povo pobre do Rio de Janeiro, e o segundo, o povo pobre de todo o País. Uma das marcas dessa união foi o recorde de mortes provocadas pela polícia no Rio de Janeiro. No entanto, em pouco tempo, a revolta contra a fraude eleitoral de 2018 começou a sair às ruas e o regime político ingressou em uma etapa de crise profunda. A crise, por sua vez, separou os “irmãos carniceiros”. Em julho, tanto Witzel, quanto outros governadores fascistas, como Doria (PSDB), procuraram se distanciar de Jair Bolsonaro, cujo governo já havia sido alvo de mobilizações gigantescas por parte da esquerda e do povo em geral.

Em setembro, Witzel deu algumas declarações públicas que desagradaram Bolsonaro, ensaiando um rompimento. O governador carioca afirmou que pretendia ser candidato à presidência da República em 2022, o que levaria qualquer um a entender que estaria disposto a disputar a base de extrema-direita do presidente ilegítimo. Em dezembro, no entanto, vieram as declaração mais contundentes de Bolsonaro sobre Witzel. Com o governo em crise e com a suspeita pairando no ar de que o presidente da República estaria envolvido com a morte de Marielle Franco, Bolsonaro acusou publicamente Witzel de estar lhe perseguindo por meio das investigações do caso da ex-vereadora do PSOL que fora assassinada.

Os conflitos públicos entre Bolsonaro e Witzel continuaram ao longo de 2020 e, no início da pandemia de coronavírus, voltaram a se intensificar. Witzel decidiu pegar carona na campanha generalizada do imperialismo contra a política do governo federal e criticou abertamente o presidente ilegítimo. Witzel chegou a defender o impeachment de Bolsonaro e a chamar o vice-presidente, Hamilton Mourão, de “senhor presidente”. De uma maneira completamente equivocada, setores da esquerda nacional chegara a afirmar que Witzel estaria arrependido de sua política direitista de outrora e que seria um aliado da luta contra o bolsonarismo.

O cálculo de Witzel terminou não dando certo. De fato, os setores mais importantes da burguesia passaram a criticar abertamente o governo Bolsonaro no início da pandemia. No entanto, esses setores em momento algum cogitaram sua derrubada. Como a polarização política continua aumentando, mesmo que a burguesia seja contra algumas políticas do governo Bolsonaro, ela tem sido obrigada a aceitar uma série de exigências do presidente ilegítimo para que haja um mínimo de estabilidade política. Neste sentido, se Witzel achou que encontraria um apoio incondicional da burguesia para lhe sustentar, isso não passou de uma ilusão.

Para o desespero de Witzel, o mês de maio lhe trouxe notícias que afetariam seu sono. Como a burguesia tem se mostrado incapaz de conter todas as iniciativas autocratas de Bolsonaro, uma operação da Polícia Federal foi deflagrada contra o governador carioca, comprovando que Bolsonaro estaria conseguindo cooptar setores do aparato de repressão para perseguir seus aliados. Pouco tempo depois, os aliados do presidente ilegítimo foram até a Assembleia Legislativa (Alerj) pedir o impeachment de Witzel.

Depois dessa ofensiva, Witzel finalmente compreendeu que não tinha poder suficiente para bater de frente com Jair Bolsonaro. Ou melhor, que entre socorrer o governador carioca, que teria a oferecer no máximo algumas promessas de que aplicaria os planos do imperialismo no estado do Rio de Janeiro, ou manter o regime político relativamente estável para que o povo não intervisse de maneira decidida, a burguesia estaria disposta a sacrificar Wilson Witzel. O governador, dessa forma, veio a público anunciar que pretende retomar o diálogo com Jair Bolsonaro e baixou o tom de suas críticas ao presidente ilegítimo.

Se Bolsonaro irá aceitar os “pedidos de desculpas” de Witzel, é algo que dependerá do desenvolvimento da luta política. No entanto, a situação como um todo serve para que a esquerda compreenda as lições mais fundamentais da chamada frente ampla.

Se os bolsonaristas decidirem continuar a ofensiva contra Witzel, poderão seguir com o processo de impeachment impetrado na Alerj. O pedido deverá ser julgado pela Casa, que aprovou, com 69 dos 70 votos possíveis, que fosse aberta uma comissão para investigar o mérito do processo. Os bolsonaristas possuem uma vantagem considerável: o PSL, partido pelo qual se elegeu Jair Bolsonaro, tem a maior bancada no Rio de Janeiro. Se considerarmos apenas o bloco de partidos de extrema-direita compostos pelo PSL, DEM e NOVO, já são 23% da Alerj. Uma bancada bastante considerável para qualquer iniciativa.

É preciso considerar, também, que Witzel não é um político tradicional da burguesia carioca. Nesse sentido, não seria difícil que setores como o MDB, o PSD, o SDD e o PTB se coloquem contra o governador carioca. Com isso, a bancada pelo impeachment de Witzel poderia chegar a 44% da Alerj. Nessas condições, se houver uma pressão maior da burguesia, a queda de Witzel pode acontecer rapidamente.

E é justamente por isso que, ao mesmo tempo em que Witzel procura se aproximar do bolsonarismo, ele procura também se aproximar da esquerda. Afinal, Witzel sabe que não pode confiar em Bolsonaro: para garantir que permaneça no mandato, o governador teria de contar também com o apoio da esquerda. Neste momento, PT, PSOL e PCdoB possuem, juntos, 11% da bancada da Alerj. O tamanho é, aproximadamente, um terço do que seria necessário para barrar o impeachment, mas poderá ser decisivo a depender de como se dê o processo.

Diante dessa realidade, fica bastante claro o que é, de fato, a chamada frente ampla. Witzel não quer se aproximar da esquerda para combater Bolsonaro. Se fosse assim, não estaria falando fino com ele após as operações da Polícia Federal. Seu único objetivo é salvar sua própria pele: fazer com que a esquerda, convencida pelo pretexto de evitar que os bolsonaristas saiam vitoriosos, apoie a manutenção de seu governo. A esquerda não tem nada a ganhar com uma frente desse tipo. Se Witzel está à beira da falência política porque é um governo impopular e que não conseguiu apoio suficiente da burguesia para enfrentar o bolsonarismo, que decrete falência! Os trabalhadores precisam se organizar de maneira independente e, nas ruas, derrubar o governo Bolsonaro, o governo Witzel e todo o regime político golpista.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.