A direita odeia a cultura, pois reflete a relação dos capitalistas com a arte. Eles não podem se relacionar com nada, a não ser como forma de arrancar mais valor. Um caso atual são as ações que correm na justiça entre o falecido compositor brasileiro João Gilberto e a gravadora Universal.
A partir de 1964, o compositor e a EMI – extinta, que foi incorporada pela Universal – não renovou o contrato de parceria, mas a gravadora continuou a vender e lançar edições dos álbuns do compositor. Estas edições incluíam remasterizações e remixagens sem autorização do artista.
João entrou na justiça para cobrar os royalties das vendas da EMI desde 1964. O Banco Opportunity também participou da ação, assinando um contrato de risco no valor de R$10 milhões, em troca de tudo o que Gilberto ganhasse destes royalties. A causa foi ganha em 2015, mas a briga continua, em torno do valor a ser pago. Em cifras atualizadas, estaria em R$219 milhões, mas a Universal pleiteia apenas R$13,5 milhões. Entretanto, a gravadora ignora as vendas do autor durante 1964 e 1974, época em que o compositor estava no auge da carreira e já havia ganhado um Grammy. Além do mais, a Universal inclui no seu relatório apenas as vendas dos próprios discos, omitindo os ganhos com faixas vendidas para outras gravadoras.
Detalhes técnicos à parte, é importante ter consciência de que, para o capitalista, o artista, assim como qualquer outro trabalhador, é apenas um meio para a realização do lucro. Por isso que, quando não são mais necessários, até mesmo profissionais excepcionais que recebiam cifras altas são passados para trás. Se pudesse, o capitalista nada pagaria.