Em jogo entre Internacional e Grêmio do último sábado (20), uma discussão e alguns empurrões ocorridos nas arquibancadas do Estádio Beira-Rio entre duas senhoras torcedoras de equipes diferentes, está recebendo um destaque pela imprensa burguesa, no mínimo, exagerado.
Apesar de discussões e desentendimentos serem fatos triviais em qualquer lugar, ao que parece, quando ocorridos em arquibancadas de estádios de futebol brasileiros, merecem uma severa repercussão da imprensa, meticulosa investigação das autoridades públicas e pronta punição dos envolvidos, principalmente do time de futebol que, ocasionalmente, estava com o “mando de jogo”, situação que, ao que parece, lhe traz a responsabilidade até mesmo por alguma reação mal humorada e menos gentil de algum torcedor desavisado.
Por mais que a discussão entre as duas senhoras e o choro da criança sejam fatos desagradáveis, não resta dúvida que felizmente nada nesta situação possui força suficiente para trazer qualquer consequência que extrapole a vida privada dos diretamente envolvidos.
Nem o futebol brasileiro, nem os times envolvidos, e muito menos as torcidas organizadas deverão responder pelos desentendimentos de duas famílias, torcedoras de times historicamente rivais, como Inter e Grêmio.
Naturalmente, a imprensa burguesa dá ao episódio contornos totalmente artificiais, visivelmente forçando a interpretação dos fatos, para dar sequência à contínua campanha contra as torcidas organizadas, cujo sonho da burguesia é simplesmente proibir.
Qualquer organização popular é considerada potencialmente perigosa para a burguesia. As torcidas organizadas, ainda que voltadas em princípio unicamente para o esporte, por mobilizarem muitas vezes centenas de milhares de pessoas, de modo algum fogem a esta regra. Levando em conta a crescente frequência das mensagens políticas da torcida — como até mesmo a pequena faixa da torcida antifascista que estava com a torcedora do Internacional — não é difícil concluir pelos motivos da campanha burguesa.
O próprio futebol, como esporte adotado em massa pelo povo brasileiro, não é bem visto pela burguesia, exceto pelos lucros obtidos com o entretenimento. Como estes lucros usualmente não virão das famosas “gerais”, hoje em fase de extinção em quase todos os estádios, o objetivo é elitizar ao máximo o futebol, limitando a grande maioria do povo a somente acompanhar as partidas em casa, e pela televisão.
Proíbe-se a cerveja, limita-se a festa das torcidas, restringem-se bandeiras, camisetas, sinalizadores e faixas, e agora até mesmo a briga da duas senhoras é elevado à condição de mais um “lamentável” episódio, a ser combatido com todo o rigor, e isto em um país onde é o próprio Estado o campeão da violência, com dezenas de assassinatos mensais, e o maior disseminador do medo e da insegurança da grande maioria de nosso povo, por meio das verdadeira milícias públicas, que são as Polícias Militares estaduais e municipais.
Além do fato de haver algo de estranho em torcedores do Grêmio estarem em arquibancadas da torcida do Internacional, com toda a rivalidade envolvida, a única situação que realmente é digna de atenção quanto ao ocorrido no grenal de sábado é a enorme propaganda repressiva e conservadora movida contra uma das maiores manifestações populares do Brasil, tradicional patrimônio cultural de nosso povo, que é o futebol.